Entre montanhas da Mantiqueira, uma cidade mineira faz do sabor e da memória um convite para sair da rotina.
No Sul de Minas, Andrelândia vem somando tradições, paisagens e saberes artesanais para criar vivências de contato direto com a produção local. A virada econômica passa por visitas a fazendas, cafés especiais, trilhas e espaços históricos que mantêm viva a identidade do município.
Do isolamento ferroviário ao turismo de experiência
Andrelândia cresceu com as ferrovias que cortavam a Serra da Mantiqueira. Quando o transporte de passageiros parou, entre 1990 e 2000, a cidade sentiu a retração do comércio e viu as estradas assumirem o protagonismo. Essa mudança abriu caminho para um reposicionamento: valorizar o que é próprio, aproximar produtores do público e transformar a rotina rural em experiência.
Andrelândia tem 1.010 km², pouco mais de 12 mil moradores e fica a menos de 150 km de Juiz de Fora.
A gestão municipal aposta em visitações guiadas, degustações e atividades de aprendizagem. A estratégia atende a um desejo crescente: vivências autênticas, com gente local, linguagem simples e produtos de origem transparente.
Centro histórico que conta a história
Vila Bela do Turvo e o traçado em barca
No centro da antiga Vila Bela do Turvo, de 1868, o desenho urbano lembra uma barca, acompanhando o rio que atravessa a cidade. Nomes como André da Silveira, fundador do povoado, e o Barão de Arantes, que articulou recursos para o prédio da Câmara e a cadeia, fazem parte da narrativa local. Do Mirante do Cristo, o visitante observa o casario, as igrejas e a malha urbana que sustentam a memória de quem ficou e de quem partiu.
Cultura viva: cine-teatro, bar histórico e antigas estações
O Cine-Theatro Glória, de 1886, com 328 lugares, passa por reforma para voltar a exibir filmes e receber peças. Ao lado da Igreja Matriz, o Bananas Bar soma décadas de balcão aberto e virou referência boêmia regional. Uma estação ferroviária preservada abriga parque, biblioteca e serviços públicos, sinal de que patrimônio e uso cotidiano podem andar juntos.
O Cine-Theatro Glória, de 1886, reforça o papel da cultura na retomada do centro histórico.
Solo e clima que favorecem vinhos e nozes
Vinícola ABN mira qualidade e diversidade
Em 1999, o húngaro Istvan Karoly Kasznar mapeou no Brasil um terroir com clima semelhante ao francês e fixou em Andrelândia seu projeto vitivinícola. A altitude e a boa circulação de ar ajudam o ciclo da videira. A Vinícola ABN chegou a 25 mil pés e a 7 mil garrafas por ano. Uma chuva de granizo, em 2016, reduziu o parreiral, mas a recuperação veio apostando na variedade: rótulos de cabernet sauvignon, syrah e merlot convivem com um vinho de jabuticaba e o “Assombroso”, mistura de uvas com cachaça, mel, raízes e folhas.
Rótulos vão de R$ 40 a R$ 400, conforme safra e tempo de guarda; a meta é manter diversidade e visitação.
Macadâmia ganha espaço e cria novas rotas
As mesmas características de solo que favorecem a uva ajudam a macadâmia. Pelo menos três fazendas da cidade cultivam a noz, produto ainda raro em Minas, apesar de o estado responder por 25% das nozes do país. Segundo a Associação Brasileira da Macadâmia, o Brasil tem cerca de 250 produtores. Em Andrelândia, a cadeia agrega valor a doces, cafés e degustações.
Café especial, queijos e mel de abelhas sem ferrão
Doce com Amor aproxima cliente e produtor
O café Doce com Amor, de Ricelli Martins e sua esposa, virou ponto cultural. A proposta é reunir o melhor da produção local em um só balcão: cafés especiais de sítios próximos, capuccino artesanal, cachaça Me Leva e queijos dos Laticínios Fazenda Generosa. A clientela cresceu com conversa, gosto e informação sobre os processos, do grão à xícara.
Meliponário Mel Mágico transforma ciência em passeio
O Mel Mágico mantém 36 espécies de abelhas nativas sem ferrão, inclusive subterrâneas e aquáticas. O espaço produz mel puro e hidromel, bebida registrada há mais de 8 mil anos. As colmeias, coloridas, ficam entre vegetação rica, o que amplia o manejo e a polinização. O público observa a retirada do mel, prova diferentes sabores e conhece a lambe-olhos, considerada a menor abelha do mundo, e a mombucão, associada a um mel valorizado.
São 36 espécies de abelhas sem ferrão, com experiências educativas e degustações guiadas.
Sete experiências para você viver em Andrelândia
- Mirante do Cristo e centro em “formato de barca”, com vista para o casario e o rio.
- Parque Arqueológico Serra de Santo Antônio, com trilhas interpretativas e visitação regular.
- Roteiro pelo centro histórico, incluindo o Cine-Theatro Glória e edifícios do século XIX.
- Degustação na Vinícola ABN, com rótulos clássicos e criações como o “Assombroso”.
- Vivência da macadâmia em fazendas locais, do pomar às receitas artesanais.
- Meliponário Mel Mágico, com abelhas sem ferrão, colheita de mel e hidromel.
- Pausa no Doce com Amor, com cafés especiais e produtos de premiados produtores da cidade.
Guia rápido para planejar sua visita
| Atração | O que você vivencia | Tempo estimado | Dica rápida |
|---|---|---|---|
| Centro histórico | Arquitetura do século XIX, praças e mirante | Médio | Leve calçado confortável para ladeiras e paradas nas igrejas |
| Parque arqueológico | Trilhas, painéis e áreas de observação | Médio | Verifique a necessidade de autorização e horários de visitação |
| Vinícola ABN | Degustações orientadas e passeios pela fazenda | Médio | Agende com antecedência e pergunte pelos rótulos sazonais |
| Meliponário | Abelhas nativas, colheita e hidromel | Curto | Use roupas claras; alérgicos devem avisar a equipe |
| Rota da macadâmia | Pomares, secagem e usos culinários | Curto | Prove versões salgadas e doces para notar diferenças |
| Doce com Amor | Cafés especiais e produtos artesanais | Curto | Peça sugestões de harmonização com queijos e doces |
Como a experiência muda a economia local
Visitas a propriedades e espaços culturais ativam serviços de hospedagem, alimentação e transporte. Cada ingresso, xícara e garrafa circula renda dentro do município. O efeito multiplicador aparece quando a produção artesanal se conecta a uma narrativa de território: a história ferroviária, a paisagem da Mantiqueira, as técnicas familiares, a inovação de jovens guias e empreendedores.
O visitante paga pela vivência e leva bagagem de conhecimento sobre queijo, vinho, mel e café.
Planejamento, melhores períodos e cuidados
Na Mantiqueira, o inverno costuma ser mais seco, útil para caminhadas e mirantes. Em épocas de colheita, atividades rurais se tornam mais dinâmicas. Granizo pode ocorrer em tempestades, como já aconteceu nos parreirais; confira a previsão e dirija com atenção em estradas sinuosas. Pessoas sensíveis a picadas devem avisar as equipes do meliponário, mesmo com abelhas sem ferrão.
Para famílias com crianças, priorize atrações com tempo curto, como o meliponário e o café. Para casais, combine pôr do sol no mirante com degustação na vinícola. Grupos podem dividir custos de transporte e contratar guias locais para contextualizar arquivos, museus e trilhas.
Ideias extras para ampliar o roteiro
Quem gosta de gastronomia pode montar uma harmonização local: cabernet com queijo curado, hidromel com sobremesas à base de macadâmia e café especial filtrado com doces de leite. Praticantes de fotografia encontram boa luz no início da manhã em ruas históricas e no fim da tarde no Mirante do Cristo. Professores e estudantes podem organizar visitas técnicas sobre polinização, terroir e patrimônio ferroviário, conectando ciência e cultura.
Antes de sair de casa, confirme horários de cada atração, políticas de reserva e limites de visitação. Leve garrafa reutilizável, respeite trilhas sinalizadas e evite tocar em peças históricas. Pequenas atitudes garantem qualidade às experiências e ajudam a manter vivo o que faz Andrelândia singular.


