Você engasgou e está sozinho : 5 pancadas, 5 compressões e um gesto simples podem salvar você

Você engasgou e está sozinho : 5 pancadas, 5 compressões e um gesto simples podem salvar você

Acidentes à mesa surgem sem aviso. Em segundos, a respiração falha, o pânico cresce e a reação certa pode mudar o desfecho.

Sem alguém por perto, muita gente trava. Há, porém, técnicas simples que multiplicam as chances de liberar a via aérea, ganhar tempo e pedir ajuda do jeito certo.

Por que o engasgo exige ação imediata

Quando um alimento ou objeto bloqueia a traqueia, o oxigênio não chega aos pulmões. A pessoa perde força, desmaia e, sem intervenção, o quadro evolui rápido. O corpo até tenta expulsar o obstáculo com tosse. Mas, se a obstrução é total, a tosse some, a voz não sai e os lábios podem ficar arroxeados.

Como diferenciar obstrução parcial e total

  • Obstrução parcial: a pessoa tosse, fala com dificuldade, respira ruidosamente. Ajude-a a tossir e vigie.
  • Obstrução total: não tosse, não fala, não respira ou apenas ofega; pode levar as mãos ao pescoço.

Se a pessoa ainda tosse e fala, incentive a tosse. Não aplique compressões abdominais nesse momento.

Sozinho? Como realizar a autocompressão com segurança

Quando não há ninguém por perto, dá para adaptar a manobra de Heimlich usando o próprio corpo e uma superfície firme. A ideia é criar uma pressão súbita no abdômen superior para empurrar o ar residual dos pulmões e ejetar o objeto.

Passo a passo da técnica de autossalvamento

  • Apoie a parte superior do abdômen, logo acima do umbigo, no encosto de uma cadeira, na quina de uma mesa ou no corrimão.
  • Incline o tronco para frente para não aspirar ainda mais o objeto.
  • Empurre o abdômen contra a borda com movimentos rápidos e vigorosos, para dentro e para cima.
  • Repita até expulsar o objeto, conseguir tossir forte ou respirar melhor.
  • Se tiver fôlego, ligue para 192 (SAMU) ou 193 (Bombeiros) em viva-voz entre as tentativas.

Sozinho e sem ar? Use a borda de uma cadeira como “alavanca”. Compressões firmes e repetidas aumentam a chance de desobstrução.

Cuidados para reduzir riscos

  • Grávidas e pessoas com obesidade: prefira compressões na região do esterno, usando o peito contra a borda, e não o abdômen.
  • Evite golpes descontrolados que possam causar lesão de costelas ou do baço. Mire a borda acima do umbigo, abaixo do esterno.
  • Não introduza os dedos às cegas na boca. Isso empurra o objeto ainda mais.
  • Não beba água ou tente “forçar” o alimento para baixo.

Diretriz atual: 5 pancadas nas costas e 5 compressões

As recomendações de entidades internacionais, como a AHA, foram atualizadas recentemente. Para vítimas conscientes, crianças e adultos, o protocolo com ajuda presencial alterna dois tipos de intervenção: pancadas interescapulares e compressões abdominais.

  • Posicione-se ao lado e ligeiramente atrás da vítima.
  • Dê 5 pancadas firmes entre as escápulas, com a base da mão, inclinando a vítima para frente.
  • Se não funcionar, faça 5 compressões abdominais: posicione o punho acima do umbigo, cubra com a outra mão e puxe para dentro e para cima.
  • Repita a sequência 5–5 até a via aérea liberar ou a pessoa perder a consciência.
Faixa etária Técnica com ajuda Observações
Adultos 5 pancadas nas costas + 5 compressões abdominais Obesos/gestantes: substituir por compressões torácicas
Crianças (1 a 8 anos) Mesma sequência 5–5, adaptando força Manter a cabeça da criança levemente inclinada para frente
Lactentes (menos de 1 ano) 5 golpes nas costas + 5 compressões torácicas com dois dedos Nunca realizar compressão abdominal em bebês

Perdeu a consciência? Inicie compressões torácicas e acione 192 ou 193 imediatamente. Um desfibrilador externo automático, se disponível, deve ser trazido.

Sinal universal de socorro: peça ajuda sem voz

Quem está engasgado e consciente costuma levar as duas mãos ao pescoço. Esse gesto é o pedido de ajuda reconhecido no mundo todo. Ao perceber o sinal, chegue por trás da vítima, pergunte se ela está engasgada e diga que vai ajudar. Aplique o protocolo 5–5. Se estiver sozinho, direcione alguém a ligar para os serviços de emergência e a buscar um desfibrilador no local.

Após a liberação, avalie a respiração por alguns minutos. Dor no peito, tosse persistente, chiado ou febre nas horas seguintes podem indicar aspiração de fragmentos e exigem avaliação médica. Mesmo quando o objeto sai, microlesões na garganta ou no estômago podem ocorrer.

O que não fazer em hipótese alguma

  • Não bata nas costas de quem está com tosse eficaz. Isso pode piorar a obstrução.
  • Não ofereça líquidos, pão ou arroz “para empurrar”. O risco de asfixia aumenta.
  • Não tente técnicas vistas sem treinamento que envolvam pressão no pescoço ou manobras perigosas.

Prevenção que cabe no dia a dia

Pequenos hábitos reduzem muito a chance de engasgo. Corte alimentos redondos, como uvas e salsichas, em tiras no sentido do comprimento. Mastigue devagar e evite falar ou rir com comida na boca. Limite álcool quando for comer. Ajuste próteses dentárias. Mantenha moedas, tampinhas e peças pequenas fora do alcance de crianças.

  • Com crianças: não ofereça amendoim ou balas duras; supervisione refeições.
  • Com idosos: adapte a textura dos alimentos e avalie dificuldades de deglutição com um fonoaudiólogo.
  • Em restaurantes: identifique saídas, saiba onde há cadeiras firmes e locais para apoiar o abdômen em caso de emergência.

Treine antes de precisar

Simulações simples ajudam o corpo a reagir. Reproduza o gesto do sinal universal diante do espelho. Pratique a posição da mão para compressões abdominais, sem força, para memorizar o ponto exato acima do umbigo. Observe no ambiente onde há superfícies firmes adequadas para autocompressão. Esse repertório mental encurta o tempo entre o susto e a ação.

Para quem convive com crianças, vale treinar a sequência específica para lactentes usando um boneco. Profissionais de saúde recomendam cursos rápidos de primeiros socorros que incluem engasgo, reconhecimento de obstrução parcial e total, e noções de reanimação cardiopulmonar. A combinação de informação e prática protege famílias inteiras e reduz mortes evitáveis.

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