Uma mordida antiga volta a provocar filas e conversa boa nas esquinas de Marília, reacendendo afetos e memórias de bar.
Nesta quinta-feira, a prefeitura sancionou uma lei que eleva o sanduíche chinelão ao status de patrimônio gastronômico e prato típico da cidade, consolidando uma história iniciada nos anos 1970.
O que muda com a lei
O reconhecimento oficial dá ao chinelão um selo de identidade local. A partir dele, ações de turismo e cultura podem priorizar o sanduíche em materiais promocionais, em roteiros temáticos e em eventos de rua. Lanchonetes e padarias ganham argumento comercial e narrativo para valorizar o preparo e a origem.
O chinelão passa a integrar o patrimônio gastronômico de Marília, com direito a divulgação oficial e preservação de memória.
- Reforço da marca “Marília” no turismo regional e gastronômico.
- Incentivo a cardápios que mantenham a receita tradicional em destaque.
- Possibilidade de festivais, oficinas e roteiros que contem a história do lanche.
- Estímulo a novos pequenos negócios ligados à panificação artesanal.
Como nasceu o chinelão
O chinelão surgiu na década de 1970, pela mão do padeiro Orides Magon, na Padaria São Luiz. Ele trabalhava com a antiga bengala de pão, massa de preparo minucioso, e buscou um lanche rápido para o fim da noite. Abriu a bengala ao meio, recheou com mortadela e queijo, e serviu duas fatias lado a lado, lembrando o formato de um chinelo.
A receita ganhou fama entre médicos plantonistas que faziam parada na esquina da padaria. O boca a boca fez o resto: a fila cresceu, a madrugada ficou mais movimentada, e o sanduíche virou ritual de encerramento de turno. Orides Magon manteve a rotina por décadas, até encerrar a carreira nos anos 2000. A padaria mudou de donos, mas a lembrança do lanche se espalhou pelas lanchonetes da cidade.
A receita original, em poucas linhas
O coração do chinelão está na textura do pão alongado, cortado longitudinalmente, com fatias servidas lado a lado sobre a chapa. Mortadela e queijo formam o recheio clássico, com aquecimento suficiente para selar o conjunto e aromatizar o pão. É simples, direto e afetivo.
Formato e serviço importam: duas fatias lado a lado, pão de bengala e recheio de mortadela com queijo.
Quem puxou a iniciativa na câmara
O projeto partiu do vereador Elio Ajeka, apoiado por deliberação do Conselho Municipal de Turismo em setembro. A câmara aprovou a proposta, e a prefeitura sancionou. O presidente do Comtur, Ivan Evangelista Júnior, relatou climas de nostalgia entre vereadores veteranos, com histórias que dialogam com gerações mais novas e ajudam a fixar memória.
Memória vira política pública quando nasce de lembranças compartilhadas e ganha capítulo em lei municipal.
Outros pratos protegidos na cidade
O conselho já mapeia outras referências que moldam o paladar local. Entre elas, o pastel de ovo da Pastelaria Hirata, tradicional desde os anos 1960, e o sanduíche Socialista do Chaplin Gastronomia. A cada inclusão, a cidade desenha um roteiro saboroso, capaz de explicar a própria história pela comida.
| Prato | Casa de origem | Década | Situação |
|---|---|---|---|
| Chinelão | Padaria São Luiz | 1970 | Patrimônio gastronômico e prato típico (lei municipal) |
| Pastel de ovo | Pastelaria Hirata | 1960 | Referência listada pelo Conselho de Turismo |
| Sanduíche Socialista | Chaplin Gastronomia | — | Referência listada pelo Conselho de Turismo |
O que você, morador ou visitante, pode esperar
Quem vive ou passa por Marília tende a encontrar mais lugares oferecendo o chinelão em versão clássica, com narração de origem no cardápio. Eventos de bairro e feiras gastronômicas devem ganhar versões temáticas, com música, história oral e demonstrações de panificação. É oportunidade de renda para pequenos negócios e de turismo para quem procura experiências autênticas.
- Procure estabelecimentos que indiquem a referência ao pão tipo bengala.
- Peça a versão tradicional com mortadela e queijo para sentir o DNA do lanche.
- Teste variações autorais somente depois de conhecer a base histórica.
- Valorize casas que informam origem, datas e memória do preparo.
Regras, variações e cuidados com a tradição
Leis de patrimônio gastronômico não congelam receitas; elas organizam memória e dão diretrizes para valorização. No caso do chinelão, restaurantes podem criar releituras, desde que indiquem claramente o que é “tradicional” e o que é “autoral”. Isso evita confusão e mantém a referência viva.
Transparência no cardápio protege a tradição e dá liberdade à inovação sem descaracterizar a história.
Para quem empreende, vale um cuidado: preço e porção precisam respeitar o apelo popular do lanche. O sucesso do chinelão nasceu do serviço rápido, do pão bem feito e do sabor direto. Ele agrada porque traz lembranças e entrega sustância.
Guia rápido para preparar em casa (sem perder a memória)
- Use pão alongado com boa casca e miolo elástico; corte ao meio no sentido do comprimento.
- Aqueça levemente na chapa, sem ressecar; posicione as duas metades lado a lado.
- Recheie com mortadela fatiada e queijo de derretimento fácil; aqueça até selar.
- Sirva de imediato, mantendo o formato em “duas tiras”, marca visual do chinelão.
Impactos culturais e econômicos para Marília
Quando um prato entra no rol de patrimônio, o município ganha narrativa, e o trade turístico ganha roteiro. A cidade passa a ter uma história contada por sabores e personagens, como o padeiro Orides Magon, que atravessou 40 anos de ofício. Isso impacta desde a formação de guias locais até a programação de eventos de fim de semana.
Para o setor privado, o selo de patrimônio abre caminho para parcerias com escolas, cursos de panificação e feiras temáticas. Há espaço para palestras, registros audiovisuais e ações educativas em turmas de jovens. O resultado aparece em ticket médio maior, visita repetida e visibilidade regional.
Patrimônio gastronômico é política de identidade: fortalece a economia, cria pertencimento e atrai gente para a mesa.


