Um sobrado antigo, um casal de artistas e a vontade de juntar música, teatro e risos reacendem a cena da Barra Funda.
Em uma rua vizinha ao metrô e ao terminal de ônibus, um endereço de 1950 volta a respirar arte. O Circo Caju abre as portas com oficinas, cabarés e mostras que aproximam públicos variados e criadores de diferentes linguagens, num momento em que a região figura entre as áreas mais desejadas da cidade.
O que é o Circo Caju
O Circo Caju nasce como espaço de circulação artística e convivência no bairro que a Time Out apontou como o terceiro mais descolado do mundo. A casa, tocada por Cafi Otta e Juliana Mesquita, recebeu um cuidado minucioso para retomar a vocação de palco e laboratório. A dupla transformou um imóvel degradado numa arena intimista, com cerca de 60 lugares, pé-direito de 7 metros e estrutura pronta para números aéreos, malabares, palhaçaria, música, dança e improviso.
Pé-direito de 7 metros, estrutura reaproveitada e capacidade para 60 pessoas: o novo ponto de encontro do circo em São Paulo quer proximidade entre artista e público.
Quem está por trás
Cafi começou no circo ainda criança e hoje domina palhaçaria, monociclo e malabarismo. Juliana atua na produção cultural e assume o papel de articuladora — a “atriz não praticante” que organiza a agenda, conecta artistas e costura parcerias. Eles compartilham um objetivo: reaproximar linguagens que, na percepção dos dois, se afastaram ao longo do tempo. No Circo Caju, números cômicos, música ao vivo e acrobacias acontecem na mesma noite, diante de um público que vê tudo a poucos metros do picadeiro.
Casa com história, obra com propósito
O sobrado da Rua Lavradio, 404, tinha sinais de abandono severo. A reforma durou um ano e priorizou o respeito à memória do prédio. A dupla reaproveitou tijolos, portas, janelas e vidros que, combinados, criaram um visual de colagem, com toques de vermelho marcando o percurso do olhar.
Reúso como estética e ecologia: portas e janelas de origens diferentes formam uma arquitetura que carrega a narrativa do bairro.
Amigos e familiares doaram mobiliário e equipamentos. Uma postagem nas redes bastou para encher a lista de necessidades em poucos minutos. O resultado é uma casa que respira sustentabilidade, reduz custos e preserva o charme do antigo.
O que você encontra no espaço
- Palco multifuncional preparado para acrobacias aéreas.
- Jardim com espécies comestíveis e área de respiro entre sessões.
- Ponto de convivência com café, cerveja e pipoca.
- Escritório que servirá de hub para projetos e formação.
- Parede expositiva que recebe artistas visuais da cena paulistana.
Programação de novembro
A abertura chega com séries de cabarés e oficinas. O formato de cabaré permite números curtos e variados, em clima de proximidade e surpresa. Já as oficinas atendem iniciantes e praticantes que buscam aperfeiçoamento técnico e troca de repertório.
| Data | Horário | Atividade | Atrações/Convidados |
|---|---|---|---|
| 7/11 (sexta) | 19h | Cabaré Circo Caju | Rhena de Faria, Ricardo Rodrigues, Cafi Otta, Trupe Baião de Dois, Rubia Neiva, Vicky e Greta, Julia Barnabé |
| 8 e 9/11 (sábado e domingo) | 10h–18h | Oficina de malabares | Craig Kuat e Mamute |
| 14/11 (sexta) | 19h | Cabaré Circo Caju | Lu Lopes (Palhaça Rubra), Carol Bahiense, Diogo Granato, Federal, Cafi Otta, Gutto Thomaz, Trevo |
| 17, 19, 24 e 26/11 (segundas e quartas) | 19h–22h | Oficina Caravana Tapioca | Formação prática com foco em linguagem cênica e musical |
| 28/11 (sexta) | 19h | Cabaré Circo Caju | Montanha, César Lopes, Cafi Otta, Hernani Albuquerque, Luiza Bernat, Bel Mucci, Dri Telg, Otávio Fantinatto, Ju Lazzari, Luka Iankitchi, Vicky Roman |
O cabaré retorna em diferentes sextas para que o público veja artistas variados em uma mesma noite e em formato acessível.
Por que este espaço importa agora
A geração que frequentou casas independentes nos anos 1990 e 2000 viu muitos endereços fecharem. As exigências de manutenção, aluguel e equipe pressionam. No Circo Caju, a aposta recai em três frentes: baixo custo por meio do reúso, curadoria que mistura nomes reconhecidos e novas apostas, e programação continuada que oferece oficina, palco e convivência no mesmo endereço.
Essa combinação atende a uma demanda real: gente que quer desligar a tela e viver experiências coletivas. Há espaço para a família, para quem busca formação e para quem quer rir e brindar. A poucos passos do metrô, o deslocamento fica simples para quem vem de outras regiões da cidade.
Artes que se falam
O projeto reata vínculos históricos do circo com teatro e música. Em vez de separar linguagens, a curadoria cria encontros: um número de acrobacia pode dialogar com percussão ao vivo; a palhaçaria surge entre performances de dança; o malabarista divide cena com um duo instrumental. Essa dinâmica estimula a experimentação e ajuda públicos diferentes a dividir a mesma plateia.
Exposição nas paredes
Além das apresentações, a casa inaugura uma mostra com obras de Cinthia Crelier, Ligia Yamaguti e Marcio Macena a partir do dia 15. As peças ocupam paredes de tijolo aparente e reforçam a ideia de galeria viva, aberta a artistas que circulam pela cena cênica e visual de São Paulo.
Como participar sem dor de cabeça
Chegue com antecedência para garantir assento, já que a lotação é reduzida. Vale levar dinheiro e cartão para o consumo no espaço. Em dias de oficina, vista roupas confortáveis e leve garrafa de água. O local fica a poucos minutos a pé do metrô Barra Funda; para quem vai de bicicleta, procure pontos de fixação próximos, já que o sobrado está em via movimentada.
Endereço: Rua Lavradio, 404, Barra Funda. Próximo ao metrô e ao terminal de ônibus.
Dicas para quem quer se envolver
Se você pratica alguma linguagem circense e busca palco, prepare um número curto para cabaré e monitore chamadas nas redes do espaço. Se quer começar do zero, opte pelas oficinas introdutórias e combine com aulas regulares em escolas parceiras. Doações úteis incluem colchonetes em bom estado, tecidos aéreos certificados, refletores e extensões elétricas — apenas equipamentos seguros e revisados.
Quem mora na região pode apoiar divulgando a programação no condomínio, levando crianças para a sessão de estreia e sugerindo parcerias com comércios do entorno. Espaços independentes ganham fôlego com a soma de pequenos gestos: compartilhar transporte, fazer vaquinha para grupos de estudantes, oferecer serviços em troca de ingressos e propor ações em datas comunitárias.


