Debates sobre gestão pública e eficiência voltam ao centro da conversa em Minas. Moradores de Juiz de Fora cobram respostas claras.
Em agenda na Zona da Mata, Romeu Zema reafirmou que seguirá com o leilão do Expominas de Juiz de Fora. A decisão vem mesmo após a terceira tentativa sem propostas. O governo defende que a iniciativa privada gere o espaço com mais rapidez e menor custo.
Leilão do Expominas segue mesmo sem propostas
A terceira rodada terminou vazia. O edital fixou lance mínimo de R$ 38 milhões e prazo de envio até 28 de outubro. Ninguém apresentou oferta. O imóvel fica no km 788 da BR-040. O documento o descreve como bem conservado e bem localizado. A venda ocorreria no estado atual do prédio. O uso precisaria seguir como centro de convenções.
O edital impõe a manutenção do Expominas como centro de convenções. Quem comprar não poderá mudar a destinação do imóvel.
Em 2017 e 2021, o governo tentou vender por R$ 61 milhões. Empresários de Juiz de Fora citaram acesso difícil e burocracia na locação do espaço. O Estado reduziu o preço. O mercado, ainda assim, não se mexeu.
Quanto custa manter fechado
Os números da Codemge mostram o peso no caixa. Em 2022, a manutenção mensal somou R$ 113.737. A receita do período ficou em torno de R$ 55.900. A diferença gerou prejuízo estimado em pouco mais de R$ 694 mil ao ano.
Manter o Expominas sob gestão pública custa mais do que arrecada: déficit anual próximo de R$ 700 mil.
O imóvel exige vigilância, limpeza, energia e equipe. O calendário de eventos não cobre os gastos. Ociosidade frequente derruba a ocupação. O equipamento perde apelo sem melhorias e sem política comercial agressiva.
Por que o governo insiste na venda
Zema repete um argumento central. A iniciativa privada decide e executa mais rápido. Se um vendaval destelhar o pavilhão, a reposição no setor público demora e custa mais. Ele cita concessões rodoviárias como a BR-040 para reforçar a tese. O Palácio quer reduzir despesas recorrentes e captar recursos com a alienação.
Há, porém, trava relevante para investidores. O edital obriga o uso como centro de convenções. O comprador assume custos de modernização sem liberdade de mudar o projeto. O acesso pela BR-040 também pesa na conta. Sinalização, transporte coletivo e estacionamento influenciam a atratividade. Taxa de juros elevada encarece o capital para reformas e operação.
O que muda para Juiz de Fora e região
O futuro do equipamento afeta feiras, congressos e shows. Afeta hotéis, bares e o comércio no entorno. Uma operação estável pode trazer visitantes e receitas. Um prédio vazio provoca efeito inverso. Veja caminhos possíveis:
- Venda pelo valor mínimo: o Estado arrecada R$ 38 milhões e deixa de arcar com o déficit anual.
- Nova rodada com ajustes no edital: flexibilização de garantias, prazos e exigências de investimento.
- Concessão de operação, sem vender o prédio: metas de ocupação e tarifas reguladas ao longo do contrato.
- Parceria com o município e entidades: calendário de eventos integrados e governança compartilhada.
O uso obrigatório como centro de convenções protege a vocação original. Também limita alternativas residenciais ou logísticas. Investidores avaliam risco, obra e demanda de eventos. Sem pacote de incentivo e plano de mobilidade, a equação fica apertada.
Saúde e transporte: a outra frente da agenda
Na mesma viagem, Zema participou da entrega de 24 micro-ônibus para o transporte de pacientes. Os veículos atenderão 25 municípios da Zona da Mata. A compra ocorreu via Acispes, com verba do programa Transporta SUS. O investimento soma cerca de R$ 15 milhões repassados pelo Estado. Cada veículo leva até 26 passageiros.
Os micro-ônibus reduzem deslocamentos improvisados e encurtam a espera por consultas, exames e cirurgias.
Como funciona o programa
| Item | Detalhe |
|---|---|
| Operador | Acispes, consórcio intermunicipal de saúde |
| Origem dos recursos | Transporta SUS, com repasse do governo de Minas |
| Municípios atendidos | 25 cidades da Zona da Mata |
| Frota entregue | 24 micro-ônibus, 26 lugares cada |
| Objetivo | Levar pacientes a serviços de média e alta complexidade |
O desenho de consórcios amplia alcance e dá escala às compras. A gestão regionaliza rotas. A baixa disponibilidade de leitos e especialistas torna viagens comuns. A frota nova reduz cancelamentos e faltas.
Nova unidade de fisioterapia em Chácara
O governador também participou da inauguração do Centro Municipal de Fisioterapia Aurora de Almeida Bessa, em Chácara. A unidade tem capacidade para mais de 300 atendimentos por mês. Hoje, realiza cerca de 150 procedimentos. O município tem pouco mais de 3 mil habitantes. Desde 2019, a Atenção Primária recebeu R$ 2,8 milhões do Estado. Somando os repasses ao Fundo Municipal de Saúde, o total supera R$ 4,8 milhões no período.
Por que o leilão travou e o que pode destravar
Três fatores costumam bloquear negócios de ativos públicos desse tipo. O primeiro é a obrigação de uso. O segundo é a percepção de risco de demanda. O terceiro é a necessidade de capital para retrofit imediato. Sem garantir fluxo de eventos, o investidor teme baixa ocupação. Sem ajustes de acesso e sinalização, o público evita o local.
Algumas medidas podem mudar a maré. O governo pode publicar um calendário âncora de feiras com apoio institucional. Pode firmar convênios com universidades, indústria e turismo para garantir datas. Pode prever isenção temporária de IPTU e ITBI ao comprador. Pode criar uma janela de carência para exigências de modernização, desde que haja cronograma verificável.
Cenário financeiro: uma simulação de payback
Uma conta simples ajuda a entender o apetite do mercado. Imagine compra por R$ 38 milhões e reforma de R$ 10 milhões. O investimento total iria a R$ 48 milhões. Se a operação alcançar faturamento médio de R$ 350 mil por mês e margem operacional de 20%, o caixa geraria R$ 70 mil mensais. O retorno levaria mais de 57 anos sem considerar juros. Com faturamento de R$ 700 mil por mês e a mesma margem, o prazo cairia para cerca de 24 anos. A alavancagem encurta o período, mas aumenta o risco. Esse quadro explica a cautela de potenciais proponentes.
O que observar nos próximos passos
- Alterações no edital: prazos, garantias e exigências de investimento.
- Formato do processo: venda, concessão ou operação compartilhada.
- Plano de acesso: sinalização na BR-040, transporte coletivo e estacionamento.
- Agenda de eventos: parcerias com Sebrae, federações e universidades.
- Transparência de custos: contas mensais, receitas por evento e ocupação do pavilhão.
O debate sobre o Expominas envolve escolhas orçamentárias. A venda corta despesas, mas transfere um ativo estratégico. A concessão mantém o patrimônio e impõe metas, mas exige regulação firme. Um modelo híbrido pode incluir outorga variável e gatilhos de investimento. A cidade precisa avaliar impactos sobre turismo de negócios e serviços.
Para o leitor que usa o espaço para feiras e formaturas, vale acompanhar o calendário de 2025. Pergunte sobre descontos, facilidades de montagem e datas disponíveis. Para empresários de eventos, mapeie custos de logística, segurança e limpeza no local. Compare com centros concorrentes em Juiz de Fora e em cidades vizinhas. A decisão do governo pode redesenhar esse mercado por anos.


