No coração de São Paulo, um encontro climático movimenta debates e acende sinais de alerta sobre custos invisíveis do dia a dia.
O foco recai sobre uma transformação silenciosa que ocupa o noticiário e mexe com a rotina urbana. A cidade envia toneladas de resíduos para um aterro que já virou referência em energia limpa e mercado de carbono. A partir dele, um evento pré-COP30 busca zerar suas emissões e envolver o público em escolhas práticas.
Como o lixo vira energia e crédito de carbono
O Aterro Sanitário de Caieiras, na Grande São Paulo, capta o biogás gerado pela decomposição da fração orgânica do lixo. Essa etapa usa sistemas de drenagem e tubulações que recolhem o gás ainda no maciço de resíduos. A operação impede a fuga de metano para a atmosfera. A equipe direciona o biogás para queima controlada ou para unidades de purificação e geração elétrica.
Quando a usina converte o biogás em energia, reduz o uso de fontes fósseis. Essa substituição cria créditos de carbono que podem compensar emissões de empresas e eventos. Cada crédito equivale a uma tonelada de CO₂ equivalente. O processo passa por medição, verificação independente e registro em plataformas internacionais.
Metano aquece o planeta cerca de 28 vezes mais que o dióxido de carbono no horizonte de 100 anos.
O evento pré-COP30 e a meta de neutralizar emissões
O Summit Agenda SP+Verde reúne governo estadual, Prefeitura de São Paulo e USP no Parque Villa-Lobos. A organização estima público de 5 mil pessoas por dia. A conta de emissões inclui deslocamento dos participantes, consumo de eletricidade e geração de resíduos do encontro. Totens interativos no parque calculam a pegada de carbono de cada visitante. O objetivo é somar as emissões e compensar a totalidade com créditos certificados do aterro.
O Grupo Solví, que administra o Aterro de Caieiras, opera a cadeia de captação de biogás e a geração de energia. A empresa conectou o projeto aos mercados de carbono e fornece créditos auditados para a compensação. A mesma estrutura já neutralizou emissões de outros encontros setoriais no país.
Desde 2006, a unidade certificou 9,6 milhões de créditos de carbono com rastreabilidade completa do gás captado e convertido.
Rastreabilidade e segurança ambiental
O projeto mede o volume de biogás coletado, a fração de metano e a energia gerada. Os relatórios seguem protocolos de monitoramento e verificação reconhecidos. Auditores independentes conferem dados, parâmetros e linhas de base. O sistema registra cada crédito emitido e impede dupla contagem. Essa trilha de evidências dá segurança para quem compra o ativo e para quem comunica a neutralização.
Transparência reduz riscos de greenwashing e aumenta a confiança do público. A prática também atende exigências de investidores e de políticas climáticas que já cobram evidências de impacto real.
Escala do impacto: números que falam por si
O Aterro de Caieiras abastece termelétricas a biogás e ajuda a estabilizar a rede elétrica. A operação soma outras plantas em diferentes estados. O portfólio cresceu com foco na redução de metano e na geração distribuída renovável. O conjunto de projetos já compensou emissões de diversos eventos no Brasil. O resultado aparece nos números.
| Indicador | Valor |
|---|---|
| Créditos certificados em Caieiras desde 2006 | 9,6 milhões |
| Poder de aquecimento do metano vs. CO₂ | 28 vezes |
| Público estimado por dia no Summit | 5 mil pessoas |
| Termoelétricas a biogás operadas pela Solví | 11 unidades |
| Estados com operação | 5 |
| Eventos já compensados no país | 21 |
Do resíduo ao quilowatt: o que sai do papel
O biogás segue para motores geradores que produzem eletricidade. A energia entra no sistema e substitui geração fóssil. Parte do gás pode ir para queima com tochas, o que converte metano em CO₂ e água. A queima reduz o impacto climático mesmo sem geração. A escolha entre tocha e geração depende de viabilidade técnica e preço da energia. O projeto calibra o mix para maximizar redução de emissões e receita.
Cada tonelada de CO₂ equivalente evitada se transforma em um crédito que financia a própria mitigação.
O que o público pode fazer agora
Os totems de pegada de carbono ajudam quem quer quantificar impacto pessoal. A ferramenta considera modais de transporte, distâncias e hábitos de consumo durante o evento. O visitante pode reduzir emissões antes de compensar.
- Prefira transporte coletivo, bicicleta ou caminhada para curtas distâncias.
- Leve garrafa reutilizável e reduza embalagens descartáveis.
- Separe resíduos no local e siga a sinalização das ilhas de coleta.
- Use as informações do totem para ajustar escolhas no dia seguinte.
- Compense apenas o que você não conseguiu evitar.
A organização também instalou o Reciclômetro. O equipamento mostra, em tempo real, o ganho ambiental da destinação correta de recicláveis. O placar facilita a visualização de impactos e engaja o público na triagem.
Como funcionam os créditos de carbono em projetos de lixo
O projeto define uma linha de base que representa o cenário sem intervenção. O operador mede a redução real e reporta os dados. Verificadores independentes validam os números e aprovam a emissão de créditos. O registro recebe um código único e entra em uma conta do projeto. Empresas e eventos compram créditos para neutralizar emissões medidas.
Esse fluxo sustenta financeiramente tecnologias de controle de metano, que exigem investimentos em engenharia, motores, monitoramento e manutenção. A receita do crédito acelera a adoção e reduz custos futuros para o sistema de gestão de resíduos.
Benefícios e limites que você precisa conhecer
Projetos de biogás geram energia firme e reduzem um gás de efeito estufa muito potente. O aterro ainda melhora o controle de odores e o manejo do chorume. A tecnologia, porém, depende do volume e da composição dos resíduos. A coleta seletiva pode reduzir o potencial de biogás ao desviar orgânicos, mas eleva a qualidade ambiental total. O equilíbrio ideal combina reciclagem, compostagem e captação de metano do que sobra.
Compensação não substitui redução na fonte. Ela cobre o que você não consegue cortar de imediato.
Dicas práticas para eventos e empresas que querem neutralizar
Organizadores precisam medir emissões com critérios claros. A metodologia deve incluir transporte de equipe e público, consumo de energia, alimentação, cenografia e resíduos. A escolha do crédito deve considerar adicionalidade, verificação, rastreabilidade e risco de reversão.
- Defina metas de redução antes de planejar a compra de créditos.
- Adote fornecedores com energia renovável e logística otimizada.
- Implemente triagem no local com apoio de monitores.
- Divulgue relatórios com a metodologia, os números e o registro dos créditos.
Informações complementares para ampliar a visão
Metano de aterros representa uma fatia relevante das emissões urbanas. Cidades que valorizam a fração orgânica com compostagem e biodigestão reduzem pressão sobre aterros e geram biofertilizantes. A integração entre coleta seletiva, usinas de triagem e projetos de biogás cria empregos e melhora a saúde pública. Esse encadeamento reduz custos com disposição final e com energia.
Quem vive em regiões atendidas por projetos de biogás pode simular a própria pegada anual. Considere deslocamentos diários, consumo elétrico e hábitos alimentares. A partir daí, estabeleça metas mensais de redução e uma pequena carteira de compensação para o que sobrar. Use créditos com verificação independente e evite compras sem registro público.


