O trailer de Tremembé incendiou as redes e levantou perguntas incômodas sobre dinheiro, direitos e limites da ficção criminal.
A estreia da série do Prime Video trouxe de volta o caso Richthofen ao centro das discussões. No meio do burburinho, a pergunta que dominou as timelines foi direta: alguém retratado na história recebe por isso? A resposta apareceu nas palavras da protagonista Marina Ruy Barbosa e virou referência para entender o que está por trás de produções inspiradas em crimes reais.
O que está em debate
Quando uma série toma emprestados fatos que já viraram parte da memória coletiva, surge a dúvida sobre pagamentos a pessoas envolvidas. No caso de Tremembé, a especulação mirou Suzane von Richthofen, cujo nome reaparece a cada nova obra que revisita o crime que chocou o país no início dos anos 2000.
Segundo Marina Ruy Barbosa, ninguém citado ou retratado em Tremembé ganhou dinheiro com o projeto.
A fala zera as teorias e aponta um ponto jurídico conhecido: fatos não têm dono. Eventos amplamente noticiados e julgados podem ser narrados em obras jornalísticas ou ficcionais sem que isso gere, por si só, pagamento a quem participou da história. O que pode exigir autorização é o uso comercial direto da imagem, da voz ou de marcas, ou ainda quando há participação ativa como consultoria, locução, atuação ou cessão de uma obra preexistente.
O que Tremembé é — e o que não é
A série não é uma cinebiografia de Suzane. Ela parte do cenário da Penitenciária Feminina de Tremembé para criar uma trama própria. Marina Ruy Barbosa interpreta uma personagem de ficção, assim como Camila Márdila e Gabriela Morais. O roteiro assinado por Angela Chaves e a direção de Maurício Farias priorizam relações de poder, culpa, traumas e confissões, sem se fixar em um único caso real.
A narrativa usa elementos reconhecíveis do cotidiano prisional para construir uma ficção, e isso muda a conversa sobre cachês.
Nesse formato, a produção se afasta do modelo em que familiares, autores de livros ou os próprios retratados vendem direitos de adaptação. Aqui, a opção criativa tem lastro na realidade, mas se sustenta em personagens, arcos e diálogos originais.
Afinal, Suzane recebeu cachê?
Não. A posição da equipe confirma que Suzane von Richthofen não recebeu um centavo pela série Tremembé. Não houve participação, consultoria ou licenciamento vinculado ao nome dela para fins comerciais. A trama não compra uma história “de alguém”; ela cria outra a partir de um contexto.
Não houve pagamento a Suzane von Richthofen. A série não licenciou a história dela nem contratou seus serviços.
Por que, na prática, alguns recebem e outros não
Quando uma obra dramatiza crimes ou ambientes reais, o pagamento depende da natureza do vínculo com a produção. Veja situações típicas:
- Consultoria ou atuação: pessoas recebem por prestar serviços criativos ou técnicos, ou por atuar na obra.
- Adaptação de obra preexistente: há cachê quando a série compra direitos de um livro, podcast ou roteiro que já existe.
- Licenciamento de marcas e acervos: museus, arquivos particulares e herdeiros recebem quando cedem materiais protegidos.
- Acordos contratuais específicos: negociados caso a caso, quando o produtor quer garantir acesso, depoimentos ou colaboração.
- Indenização: ocorre se a obra causa dano à honra, à imagem ou divulga informação falsa que gere prejuízo.
Fatos públicos, direitos de personalidade e o que a lei permite
No Brasil, fatos e informações de interesse público podem ser narrados sem autorização prévia, inclusive em obras artísticas. O uso do nome de uma pessoa em contexto informativo ou ficcional vinculado a tema de relevância coletiva encontra amparo legal, desde que não haja difamação, calúnia ou exposição abusiva.
Direito autoral protege a forma de expressão de uma obra, não os fatos em si. Já os direitos de personalidade resguardam honra, imagem e privacidade. Entre um e outro, vale o equilíbrio: liberdade de criação, dever de cuidado na representação e responsabilidade por danos se houver excesso.
Como a decisão afeta você, espectador
O público costuma se perguntar se cliques e assinaturas transformam criminosos em beneficiários indiretos. Em Tremembé, a resposta é não. A remuneração circula entre profissionais da equipe e do elenco, não entre os personagens reais que inspiraram a ambientação.
Isso não elimina debates éticos. Séries que orbitam crimes de grande repercussão pedem rigor narrativo para evitar glamourização e revitimização. Ao mesmo tempo, podem estimular discussão séria sobre sistema prisional, responsabilização e caminhos de justiça.
Onde começam e terminam os cachês em obras sobre crimes reais
| Tipo de uso | Gera pagamento? | Quando costuma ocorrer |
|---|---|---|
| Adaptação de livro ou podcast | Sim | Quando há compra de direitos autorais da obra original |
| Consultoria de especialista ou envolvido | Sim | Quando a pessoa presta serviço para o roteiro ou a produção |
| Uso de fatos notórios | Não | Quando a narrativa se baseia em acontecimentos públicos já documentados |
| Uso de imagem/voz sem distorção | Depende | Pode exigir autorização; sem ela, há risco jurídico se houver abuso |
| Indenização por dano | Não é “cachê” | Somente se a obra violar direitos e a Justiça reconhecer prejuízo |
O que a produção de Tremembé sinaliza para o mercado
Ao optar por ficção ambientada, o Prime Video reduz riscos jurídicos e questionamentos sobre remuneração a condenados. A equipe criou personagens próprios e evitou contratos com figuras ligadas ao caso Richthofen. O modelo tende a crescer: amplia liberdade criativa e diminui ruído sobre quem recebe o quê.
Desde a estreia, Tremembé virou um dos assuntos mais comentados do serviço em 2025. A recepção mostra apetite do público por narrativas de tensão psicológica, desde que o foco esteja no drama humano e não na exploração do crime em si.
Perguntas que o leitor costuma fazer
- Assinar a plataforma beneficia pessoas condenadas? No caso de Tremembé, não.
- A série precisa pedir autorização da família? Não, quando lida com fatos públicos e não usa obras privadas deles.
- É possível processar a produção? Sim, se houver ofensa comprovada à honra, falsidade ou dano material/moral.
- Obras biográficas sempre pagam? Só quando compram direitos de um livro, roteiro ou acervo, ou quando contratam colaboração.
Para ampliar seu olhar sobre o tema
Quem se interessa por bastidores pode observar como roteiristas blindam a sala de escrita: consultam registros públicos, cruzam fontes jornalísticas, criam nomes e trajetórias novas e submetem versões a leitura jurídica. Esse processo reduz dependência de pessoas reais e mantém o foco na coerência dramática.
Outra pista útil: se uma campanha publicitária da série usa diretamente a imagem ou a voz de alguém reconhecível, a tendência é que haja autorização e, possivelmente, pagamento. Quando a comunicação se apoia em personagens de ficção e em um cenário geral, o vínculo com pessoas reais se dilui.
Para quem quer avaliar riscos e vantagens
Produtores calculam três variáveis: necessidade criativa, segurança jurídica e percepção do público. Criar personagens originais em ambientes reais costuma baratear negociações, acelerar aprovações e reduzir ruídos de reputação. Em compensação, exige pesquisa mais profunda e regras claras para evitar associações indevidas com pessoas específicas que não participam do projeto.
Em Tremembé, a equação ficou clara: ficção ambientada, pesquisa robusta e nenhum cachê a pessoas citadas.


