Uma compra de Natal, um rótulo com promessa de solidariedade e um processo que vira alerta para consumidores atentos.
Uma mulher de 76 anos, da região da Campânia, na Itália, será indenizada após comprar um pandoro atrelado a uma campanha beneficente promovida por Chiara Ferragni. O caso, agora em fase de acordo, expõe dúvidas sobre campanhas comerciais que prometem doações e reacende a vigilância de quem compra motivado por causas.
Por que o caso ganhou força
A consumidora, que não teve o nome divulgado, acionou a Justiça ao perceber que a contribuição anunciada nos rótulos não correspondia ao que imaginava ter apoiado. A iniciativa, alvo do Ministério Público italiano, envolve o pandoro — doce natalino — e um ovo de Páscoa lançados entre 2021 e 2023 com a imagem de Ferragni e a promessa de repassar recursos a instituições de assistência infantil.
Promessas de repasse de faturamento criaram a expectativa de que cada compra aumentaria a doação. A investigação afirma que o montante prometido nos rótulos não refletiu o que efetivamente foi destinado.
Os produtos foram fabricados por Balocco (pandoro) e Dolci Preziosi (ovo de Páscoa). Segundo a acusação, as doações às entidades — um hospital infantil em Turim e uma ONG para crianças com deficiência — teriam sido feitas antes do início das campanhas e em valores inferiores ao total arrecadado depois com as vendas promocionais.
De acordo com a promotoria, Chiara Ferragni teria obtido ganho “injusto” de cerca de € 2,2 milhões, além de reforço de imagem atrelado à filantropia.
O que acontece agora
As partes negociam um acordo financeiro que inclui a compensação à idosa, estimada em aproximadamente € 500 (cerca de R$ 3,1 mil). A audiência preliminar está marcada para 4 de novembro, quando a retirada da queixa da consumidora pode ser formalizada. A esfera penal segue em análise judicial, com a hipótese de o caso avançar a julgamento dependendo da avaliação do juiz.
Indenização estimada: € 500. Audiência preliminar: 4 de novembro. Queixa poderá ser retirada após acordo.
Como funcionaram as campanhas promocionais
Os rótulos associavam os produtos à solidariedade e à imagem da influenciadora. O apelo: cada unidade vendida ajudaria a financiar ações sociais. O Ministério Público contesta essa narrativa: as doações já teriam sido concluídas antes da venda dos lotes, e sem relação proporcional com o volume comercializado durante o período da ação.
- Público-alvo: consumidores sensibilizados por causas infantis.
- Promessa percebida: parte do faturamento vinculado a cada compra.
- Contestação oficial: doação prévia, valores mais baixos e desconexão com vendas.
- Consequência: investigação por fraude agravada e pedidos de reparação civil.
Como o consumidor pode se proteger
Campanhas solidárias vinculadas a marcas mexem com a confiança. Há maneiras práticas de reduzir riscos e evitar frustrações com compras motivadas por doação.
Checklist antes de comprar “por uma causa”
- Procure no rótulo o valor ou percentual exato destinado à instituição.
- Verifique se a doação é por unidade vendida, por período ou um valor fixo já definido.
- Busque o CNPJ/identificação da entidade beneficiada e se ela publica relatórios anuais.
- Confirme, quando possível, se a entidade reconhece formalmente a parceria.
- Desconfie de termos vagos como “parte da renda” sem números claros.
- Prefira doar diretamente quando quiser garantir rastreabilidade e recibo.
Linha do tempo do caso
| Data | Evento |
|---|---|
| 2021–2023 | Lançamento de campanhas do pandoro e do ovo de Páscoa com apelo beneficente. |
| Abril de 2024 | A idosa percebe a inconsistência entre a promessa e a doação realizada. |
| 2024 | Ministério Público acusa fraude agravada em campanhas beneficentes. |
| Próximas semanas | Negociação de acordo civil próximo de ser concluído. |
| 4 de novembro | Previsão de audiência preliminar e possível retirada da queixa pela consumidora. |
O que o caso sinaliza para o mercado
Associações entre marcas e causas sociais agregam reputação, estimulam vendas e mobilizam públicos. O risco aparece quando a comunicação promete mais do que entrega. No direito do consumidor — tanto na Itália quanto no Brasil — a publicidade que induz a erro pode levar a sanções, obrigação de corrigir peças e reparar danos individuais.
Para empresas, transparência evita perdas financeiras e de imagem. Promessas precisam vir acompanhadas de números verificáveis, prazos, metas e auditoria independente. Quando o apelo se baseia em “parte do faturamento”, a regra de ouro é publicar o valor transferido, a data e a comprovação de recebimento pela entidade.
O que pode acontecer no processo
O acordo com a consumidora tende a reduzir a pressão civil imediata, mas não encerra a análise criminal, que depende da decisão judicial após a audiência preliminar. A Justiça avaliará se há base para levar a acusação a julgamento, se cabe arquivamento ou se medidas reparatórias adicionais serão exigidas.
Mesmo com a compensação individual, a avaliação sobre prática enganosa e seus efeitos coletivos pode seguir por vias administrativas e judiciais.
Como avaliar campanhas de doação vinculadas a produtos
Antes de decidir pela compra “solidária”, teste um cálculo simples. Se o produto custa R$ 40 e o rótulo indica doação de R$ 1 por unidade, sua contribuição real é de 2,5%. Se o valor da doação for um montante fixo já doado, a compra não altera o total transferido. Essa diferença muda a decisão de quem busca maximizar o impacto social do próprio dinheiro.
Outro ponto é o prazo. Campanhas curtas criam senso de urgência e podem dificultar a verificação das informações. Se a causa é central para você, compare com a doação direta: transfira o mesmo valor planejado e guarde o comprovante. Muitas entidades oferecem recibo dedutível e prestação de contas pública, o que facilita acompanhar resultados.
Para quem gerencia marcas, políticas rígidas de compliance e auditoria de marketing social ajudam a evitar litígios e a proteger a confiança do público. Metas objetivas, contratos claros com as entidades e relatórios pós-campanha reduzem riscos e mostram seriedade. No fim, transparência custa menos do que uma crise reputacional.


