Pagamentos de academia costumam ser rotina. Quando a confiança falha, pequenas diferenças no caixa acendem luzes vermelhas para alunos e gestores.
Em São Carlos, um caso envolvendo a administração de uma academia colocou holofotes nos bastidores da cobrança por cartão e no risco de fraudes silenciosas. A Polícia Civil investiga o suposto desvio de cerca de R$ 14 mil, após o proprietário notar inconsistências e levar provas aos distritos responsáveis.
O que se sabe do caso
Segundo o proprietário, a ex-funcionária cuidava da parte administrativa e acompanhava o fluxo financeiro da academia. Ao revisar o caixa, ele identificou ausência de valores em períodos específicos. Confrontada, a mulher teria dito que “pegou emprestado”, e que devolveria o montante. O pedido foi inicialmente tolerado, mas novas irregularidades teriam surgido.
Investigadores apuram o uso de uma segunda maquininha para receber pagamentos diretamente dos clientes, com valores que não teriam sido repassados à empresa.
Relatos indicam que a suspeita também pediu dinheiro a colegas de trabalho e até a alunos, apresentando justificativas pessoais. Diante da escalada de problemas, a academia desligou a funcionária e formalizou a ocorrência.
O valor sob apuração gira em torno de R$ 14 mil. O empresário entregou documentos, testemunhas e comprovantes à Polícia Civil.
Quem toca a investigação
O caso foi comunicado à Polícia Civil de São Carlos. O 3º e o 5º Distritos Policiais atuam nas diligências. A apuração inclui análise de extratos de vendas, cruzamento de comprovantes, oitiva de funcionários e coleta de declarações de alunos que efetuaram pagamentos.
Como a fraude teria operado, segundo relatos
O suposto esquema teria dois pilares: a intermediação de pagamentos fora do fluxo oficial da academia e a circulação de uma maquininha extra no balcão. Nesse cenário, parte das transações cairia em conta vinculada à pessoa física ou a credenciadora não cadastrada pela empresa.
- Uso de maquininha não registrada no CNPJ da academia.
- Emissão de comprovantes que não apareciam na conciliação do sistema interno.
- Dinheiro em espécie retirado do caixa sob justificativa de “empréstimo momentâneo”.
- Pedidos de valores a funcionários e alunos, com promessa de acerto posterior.
Técnicas como essa exploram lacunas de controle. Quando o gestor concentra a administração e o recebimento, a empresa perde segregação de funções e o risco aumenta.
Linha do tempo do que foi relatado
| Fato | Descrição |
|---|---|
| Primeiros sinais | Proprietário percebe faltas no caixa ao revisar a movimentação financeira. |
| Justificativa | Ex-funcionária alega ter “pegado emprestado” e promete devolver. |
| Novas queixas | Relatos de pedidos de dinheiro a funcionários e alunos. |
| Maquininha extra | Investigações apontam uso de segundo equipamento para receber pagamentos. |
| Demissão e boletim | Empresa desliga a funcionária e entrega documentos e testemunhas à polícia. |
O que dizem a polícia e a empresa
A Polícia Civil apura os fatos e colhe depoimentos. O proprietário afirma que anexou planilhas, relatórios de vendas, extratos das credenciadoras e cópias de comprovantes que não bateriam com a contabilidade da academia. O material servirá para a perícia contábil e tecnológica nos sistemas de pagamento.
O inquérito pode solicitar dados às credenciadoras de cartão para identificar a titularidade da maquininha e o destino final dos repasses.
Como clientes podem se proteger ao pagar na academia
Sinais de alerta no balcão
- Comprovante sem o nome empresarial ou CNPJ da academia.
- Pedido para pagar em maquininha “reservada” ou longe do caixa.
- Orientação para transferir por PIX para chave pessoal.
- Recibo manual sem carimbo, carente de dados básicos.
- Desconto condicionado a pagamento “por fora”.
Boas práticas na hora de pagar
- Confira no visor da maquininha o nome da empresa antes de digitar a senha.
- Peça o comprovante por SMS, e-mail ou impresso e guarde a imagem.
- Solicite nota fiscal ou declaração de quitação do mês/ano do plano.
- Verifique na fatura se a razão social bate com o que aparece no recibo.
- Reportar cobranças estranhas à administração e registrar as conversas.
Medidas de gestão para donos de academias
- Segregue funções: quem concilia não deve operar o recebimento.
- Cadastre apenas máquinas vinculadas ao CNPJ e trave novas habilitações.
- Faça conciliação diária entre vendas, extratos das credenciadoras e sistema.
- Exija recibos numerados e guarde cópias digitais.
- Implemente política formal para adiantamentos, com contrato e aprovação.
- Use controle de acesso ao caixa e câmera apontada para o ponto de venda.
Próximos passos da apuração
Os investigadores devem comparar relatórios da academia com dados de adquirentes e subadquirentes. A equipe ouve testemunhas, mapeia quem pagou na suposta maquininha extra e reconstrói o fluxo do dinheiro. Se houver indícios robustos, o inquérito segue ao Ministério Público para eventual denúncia.
Quais crimes podem ser avaliados
Dependendo das provas, a autoridade pode analisar enquadramentos como apropriação indébita, estelionato ou furto qualificado por abuso de confiança. A definição cabe à Polícia Civil e ao Ministério Público, com direito de defesa assegurado.
Acusação não é condenação. A suspeita permanece com presunção de inocência até decisão judicial.
Se você pagou e suspeita de irregularidade
- Separe comprovantes, fotos e mensagens trocadas sobre o pagamento.
- Leve o caso ao responsável da academia e peça conferência no sistema.
- Registre boletim de ocorrência se houver prejuízo.
- Acione o Procon local para orientação sobre reembolso.
- Peça à operadora do cartão a validação do estabelecimento recebedor.
Por que a maquininha “fantasma” confunde tanta gente
O POS exibe nome fantasia e permite recibo digital, o que dá aparência de legitimidade. Em ambientes com fila, ruído e pressa, o cliente não confere CNPJ. A fraude se sustenta nesses segundos de desatenção. Reforçar o hábito de validar o nome da empresa no visor reduz o risco de cair no ardil.
Entenda a diferença entre empréstimo informal e desvio
Empresas pequenas costumam ceder a pedidos de adiantamento. Sem registro e sem autorização formal, a prática vira brecha para conflitos. Empréstimo corporativo precisa de contrato, prazo, aprovação e contabilização. Quando há retirada não autorizada ou retenção de valores pagos pelo cliente, a situação pode migrar para esfera penal.
O caso de São Carlos serve de alerta prático para pais, estudantes e frequentadores de academias. Quem paga mensalidades deve adotar checagens simples. Quem recebe precisa blindar o caixa com regras claras, tecnologia e revisão diária. Esses passos evitam prejuízos e preservam a confiança nas relações dentro e fora do tatame.


