Você também pode liderar: brasileira entra no Time100 Climate 2025 e mostra 3 caminhos práticos

Você também pode liderar: brasileira entra no Time100 Climate 2025 e mostra 3 caminhos práticos

Entre lavouras e laboratórios, uma trajetória brasileira ganhou força global e reacendeu debates sobre clima, renda no campo e futuro do alimento.

O reconhecimento internacional a uma pesquisadora formada no interior paulista vira sinal para o país: soluções climáticas nascem aqui, passam pelo agro e chegam até você.

Quem é a pesquisadora

Mariangela Hungria cresceu em Itapetininga (SP) e construiu carreira na Embrapa, no Paraná. Formou-se engenheira agrônoma pela USP, fez mestrado e doutorado em ciência do solo e completou pós-doutorados nos Estados Unidos e na Espanha. Publicou mais de 500 artigos científicos, orientou centenas de alunos e leciona em universidades paranaenses.

Em maio, tornou-se a primeira brasileira a receber o Prêmio Mundial da Alimentação, conhecido como “Nobel da Alimentação”. Agora, integra o Time100 Climate 2025, na categoria Defenders, que reúne cem pessoas com impacto direto em ações climáticas.

Primeira brasileira a vencer o maior prêmio global de alimentação e nome na lista Time100 Climate 2025: dois marcos que colocam a ciência do país em evidência.

O trabalho de Mariangela se destaca pela biotecnologia aplicada ao campo, com foco em bioinsumos que reduzem custos, emissões e riscos de degradação do solo. Suas tecnologias já alcançam milhões de hectares e chegam também a agricultores familiares, em parcerias com cooperativas.

Por que a Time colocou seu nome

A lista valoriza iniciativas escaláveis, com efeito climático mensurável e capacidade de inspirar políticas públicas. O portfólio da pesquisadora cumpre esses três requisitos. Bioinsumos, como inoculantes para leguminosas, diminuem a dependência de fertilizantes nitrogenados sintéticos, que demandam muita energia para produção e podem emitir óxido nitroso no campo. A agricultura de baixo carbono se fortalece quando o solo ganha vitalidade e a lavoura rende sem expandir fronteiras.

  • Menos adubo nitrogenado significa alívio no custo direto por hectare e menor pegada de carbono.
  • O solo ganha estrutura e microbiota benéfica, o que ajuda a enfrentar estresse hídrico.
  • Produtores pequenos acessam tecnologia por meio de cooperativas e redes locais.
  • A pesquisa nacional vira produto, com protocolo técnico, rótulo e acompanhamento em campo.
  • A cadeia toda ganha previsibilidade: da semente ao armazenamento.

Agenda internacional e voz brasileira

Em novembro, Mariangela participa da AgriZone, etapa da Jornada pelo Clima liderada pela Embrapa, e integra debates previstos ao redor da COP 30. Os encontros reúnem governo, empresas, cooperativas e academia para construir métricas e metas de baixo carbono na agricultura brasileira.

Transformar ciência em resultado climático exige mais do que pesquisa: precisa de política pública, mercado e gente capacitada no território.

Da infância em Itapetininga à fronteira dos bioinsumos

A curiosidade começou no quintal de uma escola histórica da cidade, onde a avó lecionava. O interesse virou profissão, e a trajetória ganhou impulso com a referência de Joana Döbereiner, pioneira da fixação biológica de nitrogênio no país. Desde 1991, Mariangela integra a Embrapa Soja e atua em ensino e orientação, formando quadros que hoje tocam projetos de campo em várias regiões.

O fio condutor sempre foi a mesma pergunta: como produzir mais, com menos emissão e menos desperdício. A resposta veio em estudos que ligam microbiologia do solo, manejo e produtividade. O resultado comparece na balança do produtor e no inventário de carbono do país.

O que muda para você, produtor e consumidor

Quando a ciência vira rotina de fazenda, o impacto é coletivo. Você sente no preço, na qualidade do alimento e no uso responsável do território. Abaixo, três ações práticas que ganham tração com o trabalho de bioinsumos e manejo do solo.

Ação Resultado no campo Benefício climático
Inoculante em leguminosas (soja e feijão) Fixação de nitrogênio e estabilidade de produtividade Redução do uso de N sintético e corte de emissões
Cobertura do solo e rotação de culturas Mais matéria orgânica e controle de erosão Sequestro de carbono e resiliência a extremos
Parcerias com cooperativas para bioinsumos Acesso a insumos certificados e assistência técnica Escala com governança e rastreabilidade

O prêmio que mexe com o Brasil

O Prêmio Mundial da Alimentação reconhece pessoas e instituições que transformam sistemas alimentares. O Brasil já teve nomes lembrados em diferentes edições, do cerrado produtivo à política pública de combate à fome. A conquista de 2025 reabre essa conversa sob um novo eixo: o clima como métrica de sucesso e não apenas a produção bruta.

Reconhecimentos externos funcionam como aceleração: abrem portas, atraem investimento e validam tecnologia feita aqui.

Mulheres na ciência: metas que tiram o papel do papel

A pesquisadora insiste em um ponto sensível: sem políticas para mães cientistas, o país perde talento. Editais e bolsas ainda penalizam interrupções por licença. Existem caminhos práticos que instituições podem adotar imediatamente:

  • Extensão de prazos em editais para quem teve licença nos últimos 24 meses.
  • Reserva de bolsas técnicas para apoiar grupos liderados por mães pesquisadoras.
  • Avaliação curricular com janelas de produtividade ajustadas por maternidade.
  • Creches ou auxílio à infância vinculados a laboratórios e universidades.
  • Calendário de eventos com programação híbrida para ampliar participação.

Como essa pauta chega ao seu dia a dia

Se você é produtor, o primeiro passo é conversar com a assistência técnica da sua região e checar quais bioinsumos têm registro, garantia de qualidade e protocolo recomendado para a sua cultura. Bioinsumo não é milagre em frasco. Ele pede diagnóstico do solo, manejo correto e acompanhamento de safra. Sem isso, o efeito tende a cair.

Se você é consumidor, procure rótulos e iniciativas locais que valorizem práticas regenerativas. Cooperativas, feiras e programas de compra institucional costumam sinalizar quando a produção segue critérios ambientais consistentes. Isso orienta o mercado a remunerar quem faz direito.

Bioinsumo, do que estamos falando

Bioinsumos são produtos à base de microrganismos ou substâncias naturais, usados para nutrição, proteção de plantas e manejo do solo. Eles não substituem toda a adubação ou todos os defensivos. Entram como parte de um sistema. Funcionam melhor com análise de solo, rotação de culturas e cobertura vegetal. Resultados costumam aparecer em mais de uma safra, porque o solo precisa recuperar funções biológicas.

Faça uma simulação simples de viabilidade

Coloque na ponta do lápis: preço do inoculante por hectare, custo de aplicação, economia de fertilizante e ganho de produtividade. Some ainda economia de frete e armazenamento. Se a conta fechar com margem positiva e o fornecedor garantir qualidade e assistência, vale testar em área-piloto antes de escalar para o talhão inteiro.

Riscos e cuidados que você precisa considerar

  • Exija nota, registro e laudo do produto. Informalidade costuma dar dor de cabeça.
  • Armazene e aplique conforme orientação técnica. Temperatura e luz afetam o desempenho.
  • Evite misturas improvisadas no tanque. Compatibilidade química importa.
  • Monitore com indicadores objetivos: stand, nodulação, produtividade e custo por saca.

Da infância em Itapetininga às mesas globais de clima, a mensagem que chega é direta: ciência brasileira tem solução, fala com o mundo e cabe no bolso de quem produz. O próximo passo depende de políticas públicas que escalem o que já funciona, de cooperativas que organizem demanda e de consumidores que escolham sistemas mais justos e menos intensivos em carbono.

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