Vizinhos cantam, alongam, lembram histórias e se reconhecem no espelho do outro. A cada encontro, nasce um novo motivo para voltar.
Em São Bernardo do Campo, grupos em unidades de saúde transformam rotina em cuidado. O que começa como alongamento vira amizade, e a cidade colhe resultados na prevenção.
Quinze anos que viraram rotina de cuidado
O Programa De Bem com a Vida completa 15 anos de atividade contínua nas 35 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) do município. A Secretaria de Saúde, por meio do Departamento de Atenção Básica e Gestão do Cuidado, coordena equipes e agendas que integram prática corporal, convivência e estímulos cognitivos. A proposta nasce na ponta: dentro dos bairros, perto de casa, com acolhimento e vínculo.
A comemoração pelos 15 anos ganhou palco na Câmara de Cultura Antonino Assumpção, com música, dança, intervenções artísticas e muita emoção. Mais de cem participantes de nove unidades — São Pedro I, Parque São Bernardo, Farina, Baeta, Montanhão, Selecta, Ipê, Represa e Batistini — mostraram o que os encontros constroem dia a dia: autonomia e bem-estar.
Em 35 UBSs, grupos semanais combinam movimento, memória e laços afetivos para fortalecer saúde física e emocional.
O que muda na vida de quem participa
Quando o grupo vira família
No Baeta Neves, Dona Cida, 78, frequenta as atividades desde o início. Ela descreve o que muitos sentem: o grupo vira referência, dá pertencimento e cria uma rede de cuidado. Quando alguém falta, a roda percebe, pergunta, liga. Esse olhar coletivo sustenta a adesão e reduz a solidão, um fator de risco para depressão e piora de quadros crônicos.
As conversas e risadas não são detalhe. Interação social ativa regula humor, reduz estresse e favorece pressão arterial e qualidade do sono. O encontro, com 60 a 90 minutos, encaixa na rotina e rende ganhos mensuráveis: mais disposição, equilíbrio e confiança para atividades do dia a dia, como subir um degrau, pegar um ônibus, cozinhar sem dor.
Pertencer ao grupo diminui o isolamento, mantém a mente ativa e cria hábitos saudáveis que se espalham pelo bairro.
Dor que cede ao movimento
Teresinha, 58, chegou com dores espalhadas pelo corpo. Ao combinar alongamentos suaves, exercícios de memória, ritmo e teatro, ela reconstruiu mobilidade e autoconfiança. Muitos imaginam que a atividade “leve” não faz diferença. Faz, e muito. O corpo responde ao estímulo contínuo, sem exagero, com técnica e supervisão. Com o tempo, a pessoa volta a alcançar objetos no armário, amarrar o sapato e caminhar duas quadras sem falta de ar.
Como o programa funciona
Educadores de educação física, dança e teatro conduzem práticas adaptadas. Cada grupo considera limitações, objetivos e gostos dos participantes. A equipe organiza propostas no território, dentro e fora da UBS, como praças, salões e centros comunitários. A participação é gratuita e aberta a quem se interessar, com foco na população idosa, mas com portas abertas para vizinhos que buscam conviver e se movimentar.
| Atividade | Para que serve | Duração típica |
|---|---|---|
| Alongamentos e mobilidade | Solta articulações, reduz rigidez e previne dores | 15–20 minutos |
| Exercícios de equilíbrio | Diminui risco de quedas e melhora estabilidade | 10–15 minutos |
| Dança e ritmos | Trabalha coordenação, condicionamento e alegria coletiva | 15–25 minutos |
| Teatro e memória | Estimula cognição, linguagem e criatividade | 10–20 minutos |
| Roda de conversa | Fortalece vínculos, acolhe sentimentos e combina cuidados | 10–15 minutos |
Qualquer interessado pode participar: basta procurar a UBS de referência no bairro e se informar sobre dias e horários.
Passo a passo para entrar no grupo da sua UBS
- Vá até a UBS mais próxima e informe interesse no De Bem com a Vida.
- Leve um documento pessoal e o Cartão do SUS para cadastro e atualização.
- Pergunte pelos dias e locais das turmas no seu território.
- Converse sobre restrições de saúde para receber adaptações seguras.
- Combine com um vizinho ou familiar para manter a frequência nas primeiras semanas.
Onde a comemoração ganhou palco
A festa de aniversário, realizada em 31 de outubro na Câmara de Cultura Antonino Assumpção, mostrou a potência da cultura como ferramenta de cuidado. Coreografias, pequenas cenas e canções apresentadas por usuários e educadores traduziram o cotidiano dos encontros. Mais do que entretenimento, a apresentação reafirmou a política pública que valoriza a prevenção e o vínculo comunitário.
Por que essa estratégia pública importa
São Bernardo, como o país, envelhece de forma acelerada. Quando a cidade organiza convivência e movimento perto de casa, a UBS passa a prevenir, e não apenas a atender crises. Pessoas ativas usam menos o pronto-socorro, controlam melhor doenças crônicas e seguem independentes por mais tempo. Gestores e equipes enxergam, nesses 15 anos, uma curva constante de adesão e resultados.
Prevenção custa menos que internação, reduz filas e devolve autonomia para atividades simples do cotidiano.
Dicas para aproveitar melhor os encontros
- Use roupas leves e tênis com solado firme para evitar escorregões.
- Leve água e anote como se sentiu após a aula para ajustar o ritmo.
- Mantenha medicações em dia e fale com o educador sobre sintomas novos.
- Trace uma meta pessoal: subir escadas sem apoio, caminhar no quarteirão, dormir melhor.
- Varie atividades cognitivas: leia em voz alta, jogue memória, conte histórias da infância.
- Convide um amigo ou vizinho; dupla aumenta compromisso e diversão.
O que você encontra nos grupos
As turmas costumam ter acolhimento, alongamento orientado, atividades rítmicas com música, propostas de equilíbrio e um tempo final para relaxar e conversar. Educadores adaptam intensidade e respeitam limites. Quem não pode ficar em pé participa sentado. Quem usa bengala trabalha equilíbrio com apoio. Cada pequena evolução vira motivo de celebração.
Informações complementares para ampliar o cuidado
Práticas sociais e corporais funcionam como “remédios de uso contínuo”. A regularidade constrói benefício. Para quem inicia agora, vale começar com uma sessão por semana e, quando possível, somar caminhada leve de 15 a 20 minutos em dias alternados. Em caso de dor persistente, tontura, falta de ar fora do habitual ou queda, procure avaliação na UBS antes de retomar a atividade.
Famílias podem participar indiretamente. Combine horários para que a pessoa idosa não falte, ajude no transporte quando necessário e estimule a autonomia em casa: utensílios ao alcance, tapetes firmes, iluminação adequada. Pequenos ajustes reduzem riscos e mantêm a confiança que o grupo desperta.
