Novos caminhos pelo semiárido potiguar ganham forma, sinalizando experiências de baixo impacto e renda para quem vive no interior.
O Rio Grande do Norte prepara um circuito de cavernas e grutas que leva viajantes para além do litoral. A proposta combina conservação, pesquisa e oportunidades locais, com regras de visitação e um calendário de implantação já em andamento.
Roteiro oficial liga ciência, natureza e trabalho local
A Lei nº 12.482 instituiu a Rota das Cavernas e Grutas e definiu que só entram no circuito localidades com cavidades naturais que possuam plano de manejo e condições seguras de visitação. O desenho do projeto parte de estudos conduzidos pela Secretaria de Turismo (Setur-RN) em parceria com o Idema e o ICMBio. O eixo inicial inclui municípios como Felipe Guerra, Apodi, Baraúna, Martins e Mossoró, reconhecidos pelo patrimônio espeleológico e pela paisagem da Caatinga.
A rota nasce com foco em sustentabilidade, economia solidária e participação comunitária do planejamento à operação.
Um grupo técnico multidisciplinar, articulado entre Setur, Emprotur e órgãos municipais, estaduais e federais, trabalha na regulamentação e nas diretrizes de execução. O plano formal deve ser apresentado no primeiro semestre de 2026, com etapas que englobam infraestrutura, sinalização, qualificação e promoção.
Onde o mapa começa a ganhar cor
- Felipe Guerra e Apodi: alto potencial espeleológico e trilhas em relevo cárstico.
- Baraúna e Mossoró: acesso à Furna Feia, vitrine para visitação controlada.
- Martins: serras, mirantes e integração com atrativos de clima ameno.
- Outros municípios poderão ingressar mediante manejo e monitoramento aprovados.
Promoção segmentada mira visitantes qualificados
Segundo a Emprotur, a estratégia de divulgação prioriza viajantes de geoturismo, espeleoturismo e aventura. Esse público costuma buscar experiências autênticas, exige compromissos ambientais e apresenta maior ticket médio. A comunicação deve valorizar paisagens semiáridas, formações rochosas, cultura sertaneja e vivências com comunidades, além de recursos digitais como mapas interativos, vídeos imersivos e roteiros temáticos na plataforma estadual de turismo.
Conservação e experiência sensorial orientam a narrativa: menos volume, mais qualidade e permanência no destino.
Parque Nacional da Furna Feia vira vitrine da rota
Entre Mossoró e Baraúna, o Parque Nacional da Furna Feia abriu visitação pública em 2025, tornando-se peça central do roteiro. Com cerca de 8,5 mil hectares e 218 cavernas registradas, o parque reúne formações rochosas singulares, sítios arqueológicos e fauna típica da Caatinga, incluindo espécies ameaçadas. O acesso exige agendamento e acompanhamento por condutores credenciados, prática que reduz impactos e organiza a experiência do visitante.
Como organizar a visita sem percalços
- Agende com antecedência e confirme horários de trilhas interpretativas.
- Vá com guia ou condutor autorizado. O acompanhamento é obrigatório.
- Use capacete com iluminação, calçado fechado, luvas e água suficiente.
- Evite tocar espeleotemas. Gordura e sujeira interrompem o crescimento das formações.
- Respeite a capacidade de carga da caverna. Grupos menores reduzem ruído e desgaste.
Interiorização traz novos negócios e empregos
Entidades empresariais enxergam a rota como um passo certeiro para diversificar a oferta e atrair perfis que não viajam movidos por sol e mar. Ao ampliar o leque de experiências, o estado consegue reter visitantes por mais dias, ativar cadeias locais e distribuir renda para guias, condutores, artesãs, cozinheiras e produtores rurais. A Fecomércio sinaliza participação na capacitação, com apoio do Senac, em trilhas interpretativas, técnicas de condução em caverna, hospitalidade e segurança.
Qualificação direcionada sustenta a qualidade do atendimento e eleva a permanência média do viajante no interior.
Desafios de acesso e soluções em pauta
O Oeste potiguar concentra boa parte das cavernas, mas ainda enfrenta gargalos de logística. A distância do principal portão aéreo, em Natal, e a limitação do aeroporto de Mossoró pesam na decisão do visitante. Melhorias de pista, navegação e frequência de voos podem mudar o jogo. Em paralelo, sinalização turística, recuperação de estradas e centros de apoio ao visitante formam o pacote básico para a rota se manter atrativa e segura.
| Desafio | Impacto | Caminho proposto |
|---|---|---|
| Acesso aéreo a Mossoró | Viagens longas e custo elevado | Ampliação de tecnologia e operação de voos comerciais |
| Estradas e sinalização | Risco e perda de tempo | Manutenção contínua e placas padronizadas com leitura fácil |
| Capacitação local | Atendimento desigual | Cursos práticos de guia, primeiros socorros e manejo de grupos |
| Conservação | Degradação de cavernas | Controle de acesso, monitoramento e educação do visitante |
Calendário e fases de implantação
O grupo técnico trabalha na regulamentação e nas regras operacionais. A apresentação do plano está prevista para o primeiro semestre de 2026. A implantação tende a seguir fases: validação dos planos de manejo, sinalização e estrutura mínima, qualificação de condutores e guias, operação-piloto em áreas prontas, promoção segmentada e expansão gradual para novos municípios.
Como a rota se conecta ao seu bolso
A economia solidária aparece no centro da proposta. A rota prioriza compras e serviços na comunidade, como alimentação caseira, artesanato, aluguel de equipamentos, transporte local e hospedagens familiares. Isso aumenta o efeito multiplicador do turismo e reduz a fuga de receita para fora do território.
Segurança, clima e preparo do visitante
- Clima: o semiárido concentra chuvas entre o fim do verão e o outono; verifique trilhas e vazões.
- Saúde: informe alergias e condições médicas ao condutor. Hidratação e alimentação leve ajudam o desempenho.
- Riscos: quedas, desorientação e contato com fauna. Siga o guia e mantenha o grupo à vista.
- Responsabilidade: recolha seu lixo e evite ruídos intensos. A fauna subterrânea é sensível.
O que muda para guias e condutores
O espeleoturismo exige conhecimentos específicos: progressão em cavidade, leitura de mapa, comunicação com grupos e técnicas de mínimo impacto. Guias credenciados se tornam peças-chave na experiência, mediando informações geológicas e culturais. Programas de formação podem incluir primeiros socorros, interpretação ambiental, atendimento bilíngue e condução de pessoas com mobilidade reduzida.
Informações complementares que ajudam você a planejar
Capacidade de carga é o limite de visitantes que um ambiente suporta sem perder qualidade ambiental e de experiência. Em cavernas, esse número depende de fatores como circulação de ar, solo, umidade e presença de fauna sensível. Respeitar esse limite evita que o atrativo perca valor e garante que a visita faça sentido para quem chega depois.
Planos de manejo espeleológico definem rotas internas, pontos de parada, regras de conduta e protocolos de emergência. Eles orientam quem opera o passeio e dão segurança jurídica para o município integrar oficialmente a rota. Para o viajante, isso significa trilhas bem marcadas, informações claras e menor risco de acidentes.
Exemplo prático de impacto econômico
Suponha 1.200 visitantes por mês distribuídos em pequenos grupos, com gasto médio diário de R$ 450 por pessoa em dois dias de viagem. A injeção local pode chegar a R$ 1,08 milhão mensal, pulverizada entre guias, hospedagens familiares, alimentação, transporte e artesanato. A cifra varia por temporada e depende da manutenção da qualidade ambiental e do grau de qualificação dos serviços.
Atividades complementares fortalecem a experiência: oficinas de arqueologia cidadã para entender inscrições rupestres, observação de morcegos com protocolos de baixo estresse, rotas gastronômicas de ingredientes do semiárido e caminhadas ao nascer do sol. Cada pedaço do roteiro pode combinar ciência, cultura e paisagens, desde que a visita respeite o silêncio das cavernas e a rotina das comunidades vizinhas.


