Com o dólar em queda e os custos locais em alta, viajar para os Estados Unidos voltou a exigir contas minuciosas.
O bolso do brasileiro sente cada variação. A moeda favorece, mas a proposta de uma nova cobrança no visto e preços internos resistentes podem virar a conta ao contrário.
O que está na mesa
O governo dos Estados Unidos estuda aplicar uma nova taxa de US$ 250 para pedidos de visto de visitantes de países fora do programa de isenção, como Brasil, México, China e Índia. A medida está suspensa, sem data definida para começar, mas já provoca reação no mercado de turismo. Entidades do setor calculam que a cobrança adiciona uma barreira financeira relevante e afeta principalmente quem viaja com a família.
A U.S. Travel projeta 1 milhão de visitas a menos em 2026 e até US$ 10,6 bilhões de perdas em receita até 2028.
Esse possível recuo acontece mesmo com a desvalorização do dólar. No primeiro semestre de 2025, a moeda caiu cerca de 11%, segundo o Morgan Stanley, o maior recuo em décadas. Em tese, esse alívio ajudaria o brasileiro; na prática, a taxa extra e os preços nos EUA podem neutralizar parte do ganho cambial.
Quem será mais impactado
- Famílias com crianças: o custo sobe por cabeça, e a fatura escala rápido.
- Viajantes de primeira emissão: quem nunca teve visto paga tudo de uma vez, incluindo deslocamentos para entrevistas.
- Orçamentos enxutos: estudantes, mochileiros e viagens curtas sentem o peso por ter menos margem para distribuir custos.
- Grupos e excursões: operadores relatam retração quando despesas iniciais aumentam de forma fixa.
Câmbio favorável compensa a taxa?
Para responder, vale fazer conta simples. Suponha um casal com duas crianças que prevê gastar US$ 3.000 no total em hospedagem, alimentação e compras durante 10 dias nos EUA. Com o dólar a R$ 5,20, a despesa sairia por R$ 15.600. Com o dólar 11% mais barato (R$ 4,63), a mesma viagem cairia para R$ 13.890, alívio de R$ 1.710.
Agora adicione a nova taxa de visto: US$ 250 por pessoa. A família pagaria US$ 1.000 extras, algo em torno de R$ 4.630 ao câmbio de R$ 4,63. O ganho cambial (R$ 1.710) não compensa a nova despesa (R$ 4.630). Resultado: a viagem fica mais cara, apesar do dólar fraco.
Mesmo com o dólar em baixa, preço e relação custo-benefício continuam como ponto frágil do destino EUA.
Pressões de preço dentro dos EUA
Os custos não param no consulado. O Índice de Preços ao Consumidor (CPI) registrou alta anual de 2,9% em agosto, refletindo pressão em hospedagem, alimentação fora de casa, atrações e transporte. Operadores relatam fornecedores com tabelas reajustadas e clientes mais cautelosos no fechamento.
Líderes do setor descrevem um cenário de equilíbrio delicado: a taxa pode desestimular viagens, enquanto hotéis, restaurantes e serviços mantêm patamares elevados. A soma atrasa decisões de compra e alonga o tempo de planejamento.
Como essa conta pesa no seu bolso
| Perfil | Custo adicional estimado | Observação |
|---|---|---|
| Viajante individual | + US$ 250 | Valor fixo, pago antes de qualquer reserva |
| Família de 4 pessoas | + US$ 1.000 | Impacto direto no orçamento total |
| Grupo de 10 viajantes | + US$ 2.500 | Maior risco de cancelamento ou encurtamento da viagem |
O que dizem os estudos e o mercado
Levantamento da National Travel and Tourism Office (NTTO) aponta que os EUA brilham em cultura, compras e transporte. O calcanhar de Aquiles está no “valor pelo dinheiro gasto”. Em paralelo, executivos de promoção turística reconhecem que o câmbio mais favorável ajuda a reaquecer a demanda em mercados-chave, Brasil incluso, mas alertam que o efeito se perde quando taxas e preços internos avançam.
A cobrança pode elevar significativamente o custo inicial da viagem, em algumas situações chegando a mais de 100% na parte administrativa.
Associações de operadores afirmam que os fornecedores vivem um aperto: despesas subiram, a confiança do consumidor recuou e as margens ficaram mais estreitas. O resultado são roteiros mais enxutos, menos noites e troca de destinos caros por alternativas próximas.
Mudanças de comportamento que você pode esperar
Planejamento mais longo
Consumidores tendem a postergar a compra para ajustar o orçamento, garimpar promoções e usar pontos e milhas. A taxa adicional, por ser fixa, leva o viajante a diluir custos em mais dias ou evitar períodos de alta.
Busca por destinos substitutos
Caribe, Europa em baixa temporada e América do Sul ganham espaço quando o custo inicial para entrar nos EUA sobe. Para alguns perfis, o impedimento não é o dólar, mas as despesas que vêm antes da viagem.
Trocas dentro do próprio roteiro
Quem mantém os EUA no plano tende a cortar diárias, reduzir compras e priorizar cidades com hospedagem mais competitiva. Algumas famílias podem concentrar gastos em experiências gratuitas e parques públicos.
Como reduzir o impacto sem abrir mão da viagem
- Fuja dos picos: prefira períodos escolares de baixa e feriados não americanos.
- Monte orçamento em dólar: acompanhe o câmbio e use cartão pré-pago para segurar a cotação.
- Otimize o consulado: reúna documentos de uma vez e tente agendar todos os membros da família no mesmo dia para economizar deslocamentos.
- Troque noites caras por cidades-satélite: hospede-se em áreas metropolitanas com acesso por trem ou carro.
- Use milhas em trechos internos: reduzir voos domésticos pagos libera verba para hospedagem.
- Negocie seguro viagem familiar: planos coletivos costumam sair mais baratos do que apólices individuais.
Riscos e oportunidades para o setor brasileiro
Agências e operadores podem perder conversões na etapa de pré-venda devido ao custo fixo mais alto. Em contrapartida, quem oferecer consultoria de orçamento detalhado, calendário de emissões e combos família ganha relevância. Produtos com maior percepção de valor — ingressos combinados, passes urbanos e hospedagens com cozinha — ajudam a reter o cliente.
Informações complementares para decidir melhor
Elegibilidade e escopo: a proposta de taxa atinge solicitantes de países fora do programa de isenção. Brasileiros com visto válido não pagam nada adicional até a data de renovação. Como o cronograma pode mudar, verifique diariamente os canais oficiais antes de emitir passagens não reembolsáveis.
Simulação rápida: considere seu gasto em dólares, aplique uma taxa de câmbio realista e adicione o custo fixo do visto por pessoa. Se o câmbio cair 10% e o orçamento da viagem for de US$ 2.500 por pessoa, a economia potencial é de US$ 250 — exatamente o montante da nova taxa. Em famílias, a balança costuma pender para cima.
Preço versus valor: o estudo da NTTO reforça que “valor pelo dinheiro” pesa na decisão. Para o brasileiro, isso significa priorizar experiências que estiquem cada dólar: passes de transporte, museus com dias gratuitos, atrações de natureza urbana e roteiros que evitem deslocamentos longos.


