Nuvens que viram rios invisíveis cruzam o país e movem capitais. A nova leva de dinheiro verde pode bater na sua porta.
A eB Capital separou sua vertical de clima e lançou a Flying Rivers Capital, uma gestora independente que já chega ao mercado com histórico, equipe experiente e capital alocado em empresas que reduzem emissões. O movimento cria uma marca dedicada ao tema e mantém a eB como sócia e suporte institucional.
Nova gestora, raízes conhecidas
A Flying Rivers Capital nasce do desmembramento da eB Clima, vertical que há cinco anos estruturou um primeiro fundo e já direcionou mais de R$ 1 bilhão a seis companhias voltadas à economia de baixo carbono. A casa será liderada por Luciana Antonini Ribeiro e terá Renan Pereira Henrique como sócio. A estratégia replica um padrão visto em gestoras globais que criaram unidades específicas para clima.
A Flying Rivers terá marca, governança e cultura próprias, com a eB Capital como sócia e base institucional.
Enquanto cria uma plataforma dedicada a clima, a eB Capital acelera soluções de capital, como operações estruturadas e crédito. O foco ampliado praticamente dobrou o tamanho da gestora, que alcançou cerca de R$ 9 bilhões sob gestão. Os fundos já captados seguem com os mesmos times de gestão. Novos veículos estão a caminho.
Três frentes para descarbonizar
A tese combina impacto ambiental mensurável e geração de caixa em setores com demanda real. A atuação se concentra em três eixos conectados:
- Transição energética: biocombustíveis e outras fontes que aceleram a troca de fósseis por alternativas limpas.
- Cadeia alimentar: soluções para elevar a produtividade do agro com práticas sustentáveis e rastreáveis.
- Economia circular e cadeias de suprimento: do melhor uso de resíduos a minerais críticos para a transição energética.
O objetivo central é reduzir emissões e destravar negócios capazes de competir sem subsídios permanentes.
Casos que já movem a agulha
A Cirklo, plataforma de reciclagem de garrafas PET formada pela união de Green PCR e Global Pet, está perto de faturar R$ 1 bilhão. Em parceria com a Solar Coca-Cola, a empresa investe R$ 20 milhões em uma nova fábrica em Ananindeua (PA), reforçando a cadeia de logística reversa no Norte.
Esse passo acompanha a regulação que prevê uso progressivo de resina reciclada em embalagens plásticas e institui um sistema de logística reversa sob responsabilidade de fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes. A regra cria demanda estável para reciclados e dá previsibilidade a investimentos em plantas.
Biometano, CO₂ de grau alimentício e biofertilizantes
Outra investida é a Bioo, criada com a Sibigás Cótica para produzir biometano a partir de resíduos agroindustriais e orgânicos. O gás renovável vai para a rede da Sulgás. O projeto já nasce integrado: contratos de biomassa, de venda do gás e de coprodutos. A operação também fornece CO₂ para a indústria alimentícia e biofertilizante ao campo, aproveitando 100% dos resíduos. A primeira fábrica, em Triunfo (RS), foi inaugurada há um mês. Outras duas seguem para a reta final de implantação.
Por que o timing favorece o Brasil
Com a COP 30 chegando a Belém, a agenda climática ganha palco, mas o ímpeto vem de mudanças estruturais. Nos últimos dois anos, o país aprovou marcos relevantes: o Marco do Carbono, a Lei do Combustível do Futuro e um decreto que estabelece metas para plásticos reciclados. Esses instrumentos reduzem incertezas e aumentam a previsibilidade para investidores.
O Brasil reúne energia renovável abundante, agro com boas práticas, minerais críticos e custos de produção com menor intensidade de carbono.
Mesmo assim, o país capta menos de 4% do capital global em climate techs. Entre 2015 e 2024, a América Latina movimentou mais de US$ 3,4 bilhões no setor. Segundo a BloombergNEF, o Brasil precisará de mais de US$ 1,3 trilhão até 2050 para ampliar a oferta de energia de baixo carbono. Essa lacuna indica espaço para capital local e estrangeiro.
Novos instrumentos para reduzir riscos
A engrenagem financeira também evoluiu. O Ecoinvest, iniciativa do Tesouro Nacional com o BID, combina blended finance e proteção cambial. Na prática, o mecanismo reduz o custo do capital em projetos sustentáveis e diminui a exposição ao dólar para quem investe de fora. Com isso, a Flying Rivers projeta maior participação de investidores estrangeiros nos próximos fundos.
Como a estratégia conversa com seu bolso
Projetos de biometano podem baratear energia para indústrias, frotas e operações em zonas com rede de gás. Reciclagem com contratos de longo prazo tende a estabilizar preços de resina reciclada, impactando o custo de embalagens. No agro, o reaproveitamento de resíduos vira nova receita, além de reduzir passivos ambientais.
- Para empresas: contratos de off-take e metas regulatórias dão segurança para assinar fornecimento de energia limpa e reciclados.
- Para produtores rurais: resíduos orgânicos ganham valor com biometano e biofertilizantes, elevando a renda por hectare.
- Para consumidores: ganhos de eficiência podem se refletir em contas de luz e gás mais previsíveis no médio prazo.
- Para investidores: exposição a setores resilientes, com demanda regulada e ativos reais como plantas de reciclagem e biogás.
O que observar antes de apostar no tema
Projetos climáticos pedem execução rigorosa e integração com cadeias locais. A atratividade depende de contratos firmes, escala logística e qualidade da matéria-prima. Regulação pode mudar ritmos, por isso diversificar teses e prazos ajuda a atravessar ciclos.
Risco cambial, licenciamento e performance operacional precisam de colchões de segurança e métricas de monitoramento desde o início.
Para quem olha o tema pela primeira vez, vale entender três conceitos. Blended finance combina capital concessionário com capital privado para diluir riscos. Logística reversa transfere responsabilidades da cadeia por recolher e dar destino correto às embalagens. Off-take é o contrato que garante a compra do produto por um período, sustentando o financiamento.
Próximos passos e onde estão as oportunidades
Os fundos da antiga vertical eB Clima seguem com os mesmos gestores, e novos veículos estão em estruturação. A Flying Rivers pretende ampliar o pipeline em bioenergia, reciclagem de alto valor e soluções para o agro de baixa emissão. O foco recai em negócios que entregam caixa com tecnologia pronta para escalar.
Se você é empresa com metas ESG, avaliar contratos de fornecimento de biometano ou resina reciclada pode reduzir custos e emissões reportadas. Se é produtor, mapear resíduos e consórcios regionais cria poder de barganha. Se investe, olhar para ativos com receita contratada, clientes âncora e marcos regulatórios claros aumenta a chance de retornos ajustados ao risco.


