Uma noite para quem ama música brasileira. Memórias, parcerias e arranjos voltam à cena com um maestro que atravessou gerações.
O pianista e arranjador Wagner Tiso inicia as celebrações de seus 80 anos com um concerto retrospectivo em São Paulo. A apresentação reúne formações distintas e acena para capítulos decisivos da MPB. O público encontra um artista em plena atividade criativa e com história para contar no palco.
O show que abre as comemorações
O encontro acontece no Sesc 24 de Maio, em 2 de novembro, e marca o pontapé de uma agenda festiva. Tiso sobe ao palco com a Grande Banda e um quarteto de cordas. A direção musical é de Paulo Serau. O desenho do espetáculo aponta para uma viagem por mais de seis décadas de música.
Data, lugar e formato reunidos em uma noite: 2 de novembro, Sesc 24 de Maio, Grande Banda, quarteto de cordas e direção de Paulo Serau.
| Quando | 2 de novembro (sábado), à noite |
|---|---|
| Onde | Sesc 24 de Maio, centro de São Paulo |
| Formação | Grande Banda e quarteto de cordas |
| Direção musical | Paulo Serau |
O formato amplia as possibilidades de dinâmica. O piano lidera. As cordas adicionam textura. A banda garante fôlego rítmico. Essa combinação permite saltos entre trilhas, canções e peças instrumentais com naturalidade.
O caminho até a 80ª estação
De Três Pontas ao piano
Nascido em Três Pontas, em 1945, Tiso cresceu cercado por música. A mãe ensinava piano. O primeiro encantamento veio com o acordeom, febre juvenil dos anos 1950. O piano venceu logo depois. A prática trouxe disciplina. A escuta trouxe mistura. Eco de igreja mineira, harmonia erudita e balanço de bossa formaram a base.
Amizade com Milton e a esquina famosa
A parceria com Milton Nascimento começou cedo. Os dois formaram o W’Boys ainda adolescentes. Vieram o Berimbau Trio e o Evolusamba. Em Belo Horizonte, a história desembocou na chamada Clube da Esquina. Não era só um endereço. Era um caldo de influências, timbres e liberdade estética que redesenhou a MPB.
Som Imaginário e a linguagem elétrica
Tiso integrou o Som Imaginário, nascido para acompanhar Milton no palco e que ganhou vida própria. O grupo abraçou teclados, órgão, efeitos e arranjos cosmopolitas. Essa fase ampliou a paleta do pianista. A habilidade como arranjador cresceu. A assinatura harmônica ficou mais evidente.
Álbuns, trilhas e partitura sinfônica
A discografia solo se impôs ainda nos anos 1970. Ela revela um autor atento à canção e às formas longas. Entre os títulos que marcam essa etapa, aparecem:
- Wagner Tiso (1978) — estreia solo com foco no piano e em temas autorais;
- Assim seja (1979) — escrita refinada e sotaque brasileiro moderno;
- Trem mineiro (1980) — afetos de Minas em arranjos elegantes;
- Toca Brasil – Arraial das Candongas (1982) — cor local e apuro de orquestração;
- Manu çaruê – Uma aventura holística (1988) — experimentação e clima cinematográfico;
- Cine Brasil (1989) — vocação para trilhas em primeiro plano;
- Baobab (1990) — diálogo entre matrizes afro-brasileiras e escrita moderna.
Dos anos 1990 em diante, o foco em trilhas para cinema e teatro ganhou volume. A canção permaneceu como ponte com públicos diversos. A música instrumental seguiu em paralelo. Duas obras sinfônicas entraram no catálogo e mais de duzentos arranjos circularam por discos de referência.
Coração de estudante, parceria com Milton Nascimento, virou símbolo nas ruas durante a campanha Diretas Já, em 1983 e 1984.
O que pode pintar no repertório
O recorte promete a memória de etapas marcantes. A formação com cordas favorece baladas e temas cinematográficos. A presença da banda abre espaço para climas de estrada e para improviso de teclado. A carreira oferece material farto para um mosaico afetivo e cronológico.
- Temas instrumentais ligados a trilhas de teatro e cinema;
- Peças que remetem à fase mineira e à escrita camerística;
- Momentos elétricos que lembram o Som Imaginário;
- Parcerias que ficaram no ouvido do país.
O gesto curatorial tende a costurar contrastes. Piano acústico e timbres elétricos alternam climas. Cordas sublinham melodias. A banda sustenta viradas de andamento. O resultado se aproxima de uma antologia comentada em tempo real.
Por que esse legado ainda conversa com você
Wagner Tiso uniu rigor de partitura com escuta de rua. Isso afetou gerações de músicos e ouvintes. O piano dele se move entre a igreja e o clube. Entre o rádio e a sala de concerto. Essa habilidade explica a permanência de suas melodias. A harmonia soa sofisticada. O canto segue acessível. A obra encontra lugar em festivais, teatros e trilhas.
A metáfora do trem resume uma viagem longa, com paradas que viraram capítulos da música brasileira recente.
Serviço e orientações para o público
Verifique a disponibilidade de ingressos diretamente no Sesc 24 de Maio. Chegue com antecedência para acomodação tranquila. O centro de São Paulo oferece metrô e linhas de ônibus no entorno. Leve um agasalho leve. A sala costuma manter climatização firme. Evite grandes volumes. A política de fotografia pode variar. Respeite sinalização e equipe técnica.
Para ampliar a experiência
Como aproveitar melhor um concerto retrospectivo
Revise, antes do show, duas ou três faixas de fases distintas do artista. Uma peça mais antiga ajuda a reconhecer motivos melódicos recorrentes. Um tema de trilha revela o desenho cinematográfico dos arranjos. Um registro ao vivo mostra a liberdade do improviso.
Termos e referências que valem guardar
- Clube da Esquina: movimento musical surgido em Minas Gerais que combinou jazz, rock, canção mineira e harmonia sofisticada;
- Som Imaginário: grupo setentista que consagrou a linguagem de teclados e arranjos ousados na MPB;
- Diretas Já: mobilização cívica no início dos anos 1980 que adotou canções como hinos de esperança;
- Arranjador: quem organiza a forma final da música, decide timbres, entradas e equilíbrio entre os instrumentos.
Quer montar uma audição guiada em casa? Separe quinze minutos por bloco de fase. O primeiro com um tema de piano solo. O segundo com uma faixa de grupo elétrico. O terceiro com um tema de cordas. Anote mudanças de dinâmica, motivos repetidos e diálogos entre seções. Esse método ajuda a perceber a engenharia por trás da emoção.
Para quem estuda música, vale observar a condução de vozes nos arranjos de Tiso. Ele usa cadências claras para sustentar melodias extensas. O baixo desenha caminhos cantáveis. As cordas reforçam tensão e alívio sem carregar o tecido sonoro. Esses recursos servem tanto a trilhas quanto a canções. A versatilidade cria identidade sólida e reconhecível.


