Quartas seguem acirradas na TV aberta. Entre fé e drama, o controle remoto dita quem fica e quem sai.
Em três dias no ar, Mãe renovou o fôlego da Record e cutucou o público que zapeia durante o futebol da Globo. A aposta turca abriu espaço para reação, mas a estrada até um novo fenômeno como Força de Mulher continua longa e cheia de armadilhas.
Panorama dos números e onde Mãe se posiciona
O movimento da Record para retomar novelas turcas já produziu sinais concretos. Mãe superou, logo na largada, todos os capítulos das tramas bíblicas exibidas em 2025. Isso indica um teto de partida acima do melhor desempenho recente do filão religioso, que tinha A Vida de Jó como pico com 5,2 pontos na Grande São Paulo.
Mãe rompeu a barreira dos 5 pontos e recolocou a faixa no jogo. O sinal é claro: o público quer história envolvente.
O desafio não nasce do zero. O canal queimou parte da herança deixada por Bahar, protagonista de Força de Mulher. A turca fechou com 7,8 pontos de média na principal praça do país, mas a sequência bíblica derrubou a curva. Paulo, o Apóstolo marcou 5,1, queda que se agravou ao longo da fila com O Senhor e a Serva (4,8).
Em dez semanas, a Record viu 34% do público que assistia a Força de Mulher trocar de canal.
Esse descolamento cria pressão sobre Mãe. A novela estreia com interesse alto, mas precisa segurar quem voltou por curiosidade e reconquistar quem migrou para outras ofertas no mesmo horário.
O erro estratégico e a herança de Bahar
A troca brusca de linha editorial no horário nobre desmontou hábitos. Os folhetins bíblicos reúnem audiência fiel, mas menor e menos permeável a quem vinha de uma narrativa realista e emocional como Força de Mulher. Ao forçar uma mudança de tom, a emissora quebrou a continuidade e empurrou parte do público para fora da faixa.
Mãe tenta colar novamente na expectativa que a própria Record criou: drama familiar, personagens fortes e viradas de roteiro com fácil identificação. O gancho funciona melhor para quem se acostumou a acompanhar Bahar e companhia.
Quarta-feira, futebol e o “efeito zap”
As noites de quarta ampliam a prova de fogo. Quando o apito inicial soa na Globo, muita gente passeia pelo controle remoto. Foi assim com Força de Mulher, que capturou olhares durante os intervalos e nas pausas de jogos.
Mãe repetiu esse movimento inicial, chamando a atenção do público que alterna entre o jogo e a novela. Manter essa presença exige ritmo, bons ganchos antes do intervalo e retomada forte na volta dos breaks.
Como a concorrência se reposicionou
Com a queda dos bíblicos, a Globo respirou. O remake de Vale Tudo (2025) ganhou folga e subiu pontos preciosos em um primetime menos competitivo. No SBT, As Filhas da Senhora Garcia arrancou vice-lideranças em várias noites. A.Mar, ainda que modesta, entrega resultados dentro da realidade atual da emissora.
Na Globo, Três Graças mostrou estabilidade mesmo após uma derrota pontual para Dona de Mim. A nova trama de Aguinaldo Silva reteve parcela relevante do público da antecessora e reduz a janela para fugas de audiência.
| Produto | Média (GSP) | Leitura do cenário |
|---|---|---|
| Força de Mulher | 7,8 | Referência recente de engajamento na faixa |
| Paulo, o Apóstolo | 5,1 | Início da erosão após Bahar |
| A Vida de Jó | 5,2 | Pequena recuperação no filão bíblico |
| O Senhor e a Serva | 4,8 | Dispersão acentuada |
| Mãe | acima de 5,2 (inicial) | Reação imediata e potencial de crescimento |
O que Mãe precisa entregar para virar o jogo
A audiência inicial sugere apetite do público por narrativas com ritmo e personagens multifacetados. Para transformar curiosidade em hábito, a novela precisa de consistência no roteiro e de estratégia fina no relógio.
- Ganchos fortes antes do futebol e do intervalo comercial.
- Capítulos curtos, com viradas a cada bloco, para segurar o zap.
- Campanhas de chamada com cenas de alto impacto, sem “queimar” reviravoltas.
- Sinergia com jornalismo e variedades para expandir a conversa fora da novela.
- Sequência de exibição estável, sem pausas desnecessárias.
Roteiro e identificação: o trunfo turco
As novelas turcas costumam combinar temas familiares, conflitos morais e suspense emocional. O público se reconhece nas dificuldades dos protagonistas e acompanha a reparação das injustiças. Mãe tem esse DNA. Se a edição calibrar emoção e ação, a retenção tende a subir semana a semana.
Onde a Record ganha e onde ainda perde
A emissora volta a colher frutos quando aposta em “boas histórias, ainda que importadas”. O movimento corrige a curva descendente e reabre a disputa pela segunda posição diária. A vantagem imediata mora na percepção do público: a faixa recupera relevância e vira escolha possível durante o futebol.
O ponto frágil surge na memória recente. O público guarda o estranhamento da guinada bíblica e hesita em reconstruir a rotina de consumo. A cada noite bem-sucedida, a confiança volta um pouco. Uma semana inconsistente, porém, reabre a ferida.
Como ler os índices: rating, share e hábito
Os números citados vêm da Kantar Ibope para a Grande São Paulo, praça que referencia o mercado. Rating mede o percentual de domicílios sintonizados. Share indica a fatia de quem está com a TV ligada naquele momento. Uma novela pode crescer em share sem subir em rating se menos gente estiver com a TV ligada.
Nas quartas, o futebol costuma elevar o total de TVs ligadas. O benefício aparece para quem consegue “fisgar” o zap entre lances. Por isso, ganchos antes do apito e retomada forte após os intervalos fazem diferença.
Sinais para acompanhar nas próximas semanas
- Variação entre segunda e quarta: a novela mantém a curva mesmo com futebol?
- Retenção do bloco final: o público fica até o último minuto?
- Interferência do SBT: As Filhas da Senhora Garcia mantém a vice em noites específicas?
- Efeito em Vale Tudo: a Globo continua ganhando espaço ou estabiliza?
- Amplitude de picos: cenas de alta tensão geram saltos mensuráveis?
O papel do agendamento e do break comercial
Programação também conta história. Se o capítulo de Mãe inicia com um conflito claro, acelera no segundo bloco e entrega um clímax antes do intervalo longo, a audiência tende a resistir ao zap. A Record pode testar breaks mais curtos em momentos de maior troca de canal, concentrando o intervalo maior quando a ação “prende” melhor.
Uma boa prática envolve teasers de 10 a 15 segundos imediatamente antes do break, reforçando uma pergunta dramática. Isso reduz a evasão e aumenta a chance de o telespectador voltar do intervalo comercial.
Riscos e oportunidades no horizonte
O risco imediato é a oscilação após a curiosidade inicial. Se a trama patinar, a memória da fase bíblica reaparece e a curva cai. Oportunidade existe no boca a boca: cenas emblemáticas e personagens cativantes viralizam em redes e sustentam a audiência linear.
Para acelerar a virada, a Record pode acoplar ações de crosspromo com realities ou revistas eletrônicas, exibindo trechos inéditos e bastidores. A medida reduz o custo de aquisição de audiência e encurta o tempo de maturação do hábito.
O que você pode esperar como telespectador
Se você gostou de Força de Mulher, Mãe carrega elementos parecidos: dilemas familiares, tensão crescente e reviravoltas emocionais. A cada semana, a tendência é de intensificação dos conflitos. Se a produção mantiver a mão segura na edição, a faixa pode voltar a virar alternativa real em noites de futebol.
No mercado, uma recuperação gradual do Ibope altera o xadrez publicitário e devolve competitividade à dramaturgia da Record. Para o espectador, isso significa mais obras do tipo que você realmente maratona no sofá: histórias que conversam com a vida real, em ritmo de série, com coração de novela.


