Você sente que a rotina secou seu senso de aventura? Essas trilhas reacendem coragem, memória e sede de paisagens brutas.
Ventos frios, precipícios fotogênicos e passos medidos. Em cada rota, uma história. Em cada foto, um teste de nervos e planejamento. Abaixo, um guia com rotas icônicas, dados práticos e gatilhos para quem quer sair da tela e colocar mochila nas costas.
Por que trilhar agora
O turismo a pé cresceu com força, puxado por redes sociais e por quem busca desacelerar sem abrir mão de experiências marcantes. As reservas para trechos clássicos se esgotam com meses de antecedência. As melhores janelas de clima ficaram mais curtas. E as imagens que viralizam cobram disciplina real: sem preparo, o perrengue chega rápido.
Planeje com antecedência. Trilhas com sistema de permissões e refúgios limitados exigem datas fechadas e pagamentos antecipados.
As 10 trilhas que mexem com você
Trilha Inca, Peru
Caminho clássico até Machu Picchu, com 42 km em quatro dias, subidas íngremes e ruínas que rendem fotos históricas. O ponto alto chega a 4.215 m no Paso da Mulher Morta. A aclimatação em Cusco reduz risco de mal de altitude. Permissões se esgotam rápido.
Melhor época: maio a setembro. Permissão obrigatória. Agências credenciadas controlam o acesso diário.
W Trek, Torres del Paine, Chile
Cerca de 80 km em quatro a cinco dias, com glaciares, vales e ventos que derrubam bastão. Os mirantes do Grey, Francês e Base das Torres geram as fotos mais compartilhadas da Patagônia. Refúgios e campings precisam de reserva antecipada.
Tour du Mont Blanc, França, Itália e Suíça
Um circuito de 170 km ao redor do Mont Blanc em 10 a 12 dias. Desníveis intensos, vilas alpinas e colos que entregam luz dourada no fim da tarde. Quem prefere conforto encontra refúgios e bagagem transportada.
Milford Track, Nova Zelândia
São 53,5 km em quatro dias, cortando florestas úmidas e vales glaciais até Milford Sound. A chuva é parte do espetáculo. Huts do Department of Conservation lotam meses antes do verão.
Laugavegur, Islândia
55 km entre Landmannalaugar e Þórsmörk, com opção de estender por Fimmvörðuháls. Montanhas multicoloridas, campos de lava e vapores geotérmicos compõem cenas quase surreais. A janela de clima é curta.
Circuito Annapurna, Nepal
De 160 a 230 km, conforme traslados de carro. O passo Thorong La atinge 5.416 m. A cultura local dá ritmo às paradas, e as vistas do maciço valem cada pausa. Precisa de TIMS e ACAP, e a aclimatação manda no cronograma.
Risco de altitude real acima de 3.000 m. Regra de ouro: suba devagar, durma mais baixo que o ponto máximo do dia.
GR20, Córsega, França
180 km entre rochas, cristas e trechos técnicos. Exige experiência, pés firmes e cabeça fria. As fotos do pôr do sol nas estações de montanha justificam o esforço.
Kalalau Trail, Havaí, EUA
Trilha de penhascos na costa Na Pali, com cerca de 35 km ida e volta até a praia de Kalalau. Piso escorregadio e trechos expostos pedem atenção redobrada. O acesso é controlado por permissão.
Otter Trail, África do Sul
42 km em cinco dias pelo litoral da Garden Route. Travessias de rios dependem de maré e planejamento. As imagens misturam fozes cristalinas e paredes rochosas cobertas por vegetação.
Camino de Santiago (trecho final), Espanha
Para sentir o espírito do caminho sem meses fora de casa, muitos escolhem os últimos 100 km a partir de Sarria. Seta amarela, carimbo no credencial e chegada a Compostela entregam emoção e senso de objetivo.
Comparativo rápido
| Trilha | Distância | Duração | Ponto mais alto | Melhor época | Permissão |
|---|---|---|---|---|---|
| Trilha Inca | 42 km | 4 dias | 4.215 m | Mai–Set | Sim |
| W Trek | ~80 km | 4–5 dias | ~900 m ganho/dia | Out–Abr | Reservas |
| Tour du Mont Blanc | 170 km | 10–12 dias | ~2.600 m | Jun–Set | Não |
| Milford Track | 53,5 km | 4 dias | 1.154 m | Nov–Abr | Huts |
| Annapurna Circuit | 160–230 km | 12–18 dias | 5.416 m | Out–Nov / Mar–Abr | Sim |
| GR20 | 180 km | 12–15 dias | ~2.600 m | Jun–Set | Não |
Planejamento que evita perrengue
O cronograma manda em tudo. Quem pretende pegar refúgio precisa reservar. Quem prefere barraca checa regras locais. Em países com clima instável, leve dias de folga para reajustar trechos. O corpo agradece e as fotos ficam melhores quando o ritmo combina com o terreno.
- Equipamento base: bota amaciada, meia técnica, capa de chuva, segunda pele, casaco térmico, lanterna e bastões.
- Navegação: mapa offline no celular e bateria reserva. Em rotas técnicas, leve mapa físico.
- Saúde: kit com esparadrapo para bolhas, analgésico, soro de reidratação e protetor solar.
- Seguro: apólice com resgate em altitude para rotas acima de 3.000 m.
- Permissões: verifique prazos, taxas e limites diários. Sem documento, não há portão que abra.
Custos e logística para o bolso do brasileiro
América do Sul oferece entrada de menor custo: Trilha Inca e W Trek cabem em roteiros de sete a dez dias, com pacotes a partir de R$ 4.500, sem aéreo. Europa e Oceania exigem planejamento maior. O TMB custa mais pelos refúgios e transporte local. A Islândia pesa na diária, mas reduz a duração total.
Para o Nepal, o câmbio ajuda. O gasto diário com hospedagem e alimentação pode ficar entre US$ 25 e US$ 40 fora de temporadas cheias. O que encarece é o tempo de viagem e o equipamento de frio.
Segurança e clima: fotos bonitas pedem prudência
Imagens épicas seduzem. O vento lateral da Patagônia derruba. No Havaí, a combinação de lama e penhasco cobra passo curto e mochila ajustada. Na Islândia, uma frente fria fecha o céu em minutos e muda o humor do dia. O mantra se repete: cheque previsão, ajuste metas e nunca force rio ou crista em condição ruim.
Se o tempo virou, a melhor foto é a do retorno seguro. A paisagem permanece lá para outra tentativa.
Ideias para quem tem pouco tempo
Falta janela de férias? Três saídas inteligentes mantêm o sonho vivo: encurtar trechos com transporte local (TMB), escolher versões “express” com base fixa (W Trek com bate-voltas) ou focar em rotas de quatro dias que entregam impacto alto por quilômetro, como Laugavegur e Milford.
Dica final para sair do papel
Monte um calendário com metas mensais: 1) treinos a pé com mochila progressiva; 2) reserva de pernoites e permissões; 3) checagem de vacina, visto e seguro; 4) teste do equipamento em um fim de semana de chuva. A confiança cresce quando o corpo e a logística andam juntos.
Quer um empurrão psicológico? Escolha a trilha que mais mexe com você e imprima uma foto do mirante principal. Cole na geladeira. Cada ida ao mercado será um lembrete de que a próxima imagem épica pode ter você no quadro, não só no feed dos outros.


