Uma fita métrica na mão, uma meta na cabeça e uma pergunta que mexe com todos nós: onde está a sua cintura?
Um novo estudo com o medicamento injetável Wegovy colocou os olhos dos especialistas na relação cintura/altura, indicador ligado à gordura visceral. Os resultados chamam atenção e ajudam a traduzir o que, na prática, significa perder centímetros onde o risco realmente pesa.
O que o novo estudo revelou
Pesquisadores acompanharam 1.407 adultos com obesidade por 72 semanas em um ensaio clínico randomizado e duplo-cego. Todos receberam orientação de estilo de vida, com alimentação equilibrada e atividade física. Três grupos foram comparados: semaglutida 7,2 mg (dose ainda não aprovada por agências regulatórias), semaglutida 2,4 mg e placebo.
Com 7,2 mg, a razão cintura/altura caiu 19,5%. Com 2,4 mg, a redução foi de 13,2% em relação ao placebo.
Além disso, a maioria dos participantes alcançou uma meta próxima ao ponto considerado de baixo risco no protocolo do estudo (índice inferior a 0,53). Na prática clínica, usa-se como referência geral manter a razão abaixo de 0,50. O IMC médio também caiu para abaixo de 27, e pressão arterial, colesterol e glicemia ficaram em faixas saudáveis, o que sinaliza menor risco cardiovascular.
Em dose mais alta (7,2 mg), a perda de peso média chegou a 20,7%, e um em cada três participantes perdeu mais de 25% do peso inicial.
Resultados lado a lado
| Dose de semaglutida | Status regulatório | Redução da razão cintura/altura | Perda de peso média | Outros efeitos medidos |
|---|---|---|---|---|
| 7,2 mg | Não aprovada | −19,5% vs. placebo | ≈20,7% | Pressão, colesterol e glicemia em níveis saudáveis |
| 2,4 mg | Aprovada para obesidade | −13,2% vs. placebo | Não especificado no anúncio | Melhoras metabólicas relatadas |
| Placebo | — | Referência | — | — |
Por que a cintura fala mais do que o IMC
O IMC ajuda a dimensionar o peso em relação à altura, mas não mostra onde a gordura se concentra. A circunferência abdominal e a razão cintura/altura apontam para a gordura visceral, que fica no interior do abdome e se associa a diabetes tipo 2, hipertensão e eventos cardiovasculares.
Quando a cintura supera metade da altura, o alerta acende para risco cardiometabólico.
A meta geral mais aceita é manter a razão cintura/altura abaixo de 0,50, lembrando que fatores como sexo, idade e origem étnica influenciam os limites de risco. Como exemplo prático, uma mulher de 1,60 m deveria mirar uma cintura abaixo de 80 cm; um homem de 1,80 m, abaixo de 90 cm.
Como medir e interpretar em casa
- Use uma fita métrica flexível, com o corpo em pé e relaxado.
- Meça a cintura no ponto médio entre a última costela e o topo do osso do quadril, geralmente na linha do umbigo.
- Não prenda a respiração e não aperte a fita; ela deve encostar na pele.
- Divida a medida da cintura (em cm) pela sua altura (em cm): o resultado ideal fica abaixo de 0,50.
- Valores acima sinalizam maior risco e justificam avaliação profissional.
O que muda para quem busca reduzir a gordura abdominal
O estudo reforça uma mensagem direta: quando a terapia atinge a gordura do abdome, os marcadores cardiovasculares tendem a melhorar. Os dados indicam que o Wegovy, já aprovado na dose de 2,4 mg para obesidade, impacta a cintura e a razão cintura/altura de forma clinicamente relevante. A dose de 7,2 mg ampliou os efeitos, mas permanece em avaliação e não está liberada.
Medicação não substitui mudanças de rotina: ela atua como adjuvante a dieta equilibrada, treino e sono regular.
Ganho adicional do estudo: olhar para a cintura ajuda médicos e pacientes a acompanhar o progresso além da balança. Reduzir a razão cintura/altura traz uma leitura mais fina do risco metabólico do que apenas reduzir o peso total.
Segurança, adesão e acompanhamento
A classe dos agonistas de GLP-1, da qual a semaglutida faz parte, costuma apresentar efeitos gastrointestinais no início do uso, que tendem a ceder com ajuste de dose e orientação adequada. Avaliação individualizada conduz a melhor estratégia, que inclui monitoramento de pressão, glicemia, perfil lipídico e composição corporal.
A adesão sustentada ao tratamento e às mudanças de estilo de vida explica boa parte dos resultados de 72 semanas. Interrupções frequentes, alimentação caótica e sedentarismo reduzem o ganho clínico. Planejamento com metas realistas ajuda a manter a curva de melhora.
Cintura em foco: passos práticos para começar hoje
Se você quer transformar números em ação, estabeleça um ponto de partida confiável. Registre sua altura, sua cintura e calcule a razão. Defina um alvo viável para 12 semanas, como reduzir 2 a 4 cm de cintura com alimentação rica em proteínas magras, fibras e treino de força duas a três vezes por semana.
- Meta de curto prazo: revisar o jantar para reduzir ultraprocessados e priorizar verduras e leguminosas.
- Meta de treino: 150 a 300 minutos semanais de atividade aeróbica e duas sessões de força, conforme orientação.
- Meta de sono: 7 a 9 horas por noite, pois a restrição de sono eleva a fome e atrapalha a perda de gordura abdominal.
Quando buscar ajuda médica
Se a sua razão cintura/altura passa de 0,50 ou se você convive com hipertensão, pré-diabetes ou colesterol elevado, uma consulta com endocrinologista ou clínico permite avaliar elegibilidade para tratamento farmacológico como adjuvante. O profissional vai considerar histórico, metas, interações medicamentosas e expectativas realistas.
Informações úteis para ampliar o horizonte
Wegovy é o nome comercial da semaglutida aprovada para obesidade; Ozempic, também à base de semaglutida, tem indicação para diabetes tipo 2. As doses e finalidades diferem, o que impede substituições por conta própria. Prescrição, disponibilidade e cobertura variam por região e plano de saúde.
Para quem acompanha resultados, vale registrar mensalmente três medidas: peso, cintura e pressão arterial. Com esse trio, você enxerga o que a balança não mostra sozinha e consegue ajustar estratégias cedo. Se o objetivo é derrubar a razão cintura/altura abaixo de 0,50, anote gatilhos alimentares, planeje refeições e mantenha treinos marcados no calendário.


