Home / Maternidade / Filhos

Como promover a introdução alimentar do seu bebê com sucesso

by Redação taofeminino ,
Como promover a introdução alimentar do seu bebê com sucesso© iStock

Banana ou batata? Em pedaços ou amassados? Arroz e feijão? Com qual idade começar? São muitas dúvidas (e palpites) sobre como realizar a introdução alimentar para bebês. Desde já, fica o aviso: é preciso que a família tenha hábitos alimentares saudáveis (ou volte a comer frutinha amassada). Por Juliana Couto

Summary
  1. · Via de regra, não há regra
  2. · Dicas para os pais e cuidadores lidarem com expectativas
  3. · A prática que levou ao projeto
  4. · Comidinhas da Diana
  5. · O tal do BLW
  6. · Doces ou salgados?
  7. · IA idealizada versus IA realizada

Quem é mãe e pai sabe, você mal se recuperou do puerpério (companheiros[as] também passam pelo puerpério, acreditem) e precisa lidar com o fato de que seu filho vai fazer seis meses e a partir dessa idade é preciso iniciar a introdução alimentar (IA), isto é, começar a oferecer alimentos sólidos a ele. Se ele é AME (amamentado sem nenhum outro líquido, nem mesmo água) em livre demanda, principal recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde, prepare-se para além das mamadas ininterruptas, muita descoberta com alimentos e o início (que perdurará pelo menos por mais um ano e meio) do desmame. Se ele faz uso de fórmula infantil, prepare-se para, além da descoberta, criar uma rotina de horários de alimentação e mamadas. A dúvida que permanece é: como começar a introdução alimentar?

A primeira informação importante sobre esse processo não é relacionada aos alimentos, mas às expectativas dos pais. O seu bebê não vai começar a se alimentar regularmente de sólidos com seis meses e um dia de vida completos. Como diz o nome, é uma introdução e, por isso, um processo. É preciso reunir as tão características paciência e amor incondicional dos pais ao longo caminho do oferecimento dos alimentos. É o que diz Rachel Francischi (SP), nutricionista pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em bioquímica pela Universidade de Campinas (UNICAMP), e nutricionista das Nações Unidas (ONU) de 2007 a 2012, especificamente em nutrição materno-infantil para América Central, do Sul e Caribe. “A partir dos seis meses completos se inicia o oferecimento dos alimentos complementares. Por que se inicia nessa idade? A partir dos seis meses, os estoques de alguns micronutrientes do leite materno, como ferro e zinco, mas especialmente o ferro, já são muito baixos e já não são suficientes para suprir as necessidades nutricionais do bebê. Então, a partir dos seis meses, a alimentação é iniciada visando complementar o que o leite materno já não consegue suprir. Porém, isso depende muito de cada bebê. Existem bebês que têm necessidades calóricas e proteicas muito altas e existem bebês em que o leite materno continua suprindo essas necessidades além dos seis meses. Então tudo isso vai depender de cada bebê e do ponto de amadurecimento dele. Além do amadurecimento fisiológico, a forma como se administra essa alimentação complementar também vai determinar muito o sucesso desse oferecimento, se aceito pelo bebê ou não. Por isso, vários fatores vão determinar se a introdução alimentar vai acontecer aos seis meses completos. Mas a recomendação é essa mesma: começar a oferecer. Se o bebê vai aceitar ou não, vai depender do bebê, da dinâmica mãe-bebê ou cuidador-bebê dentro da família”.

Via de regra, não há regra

Não há uma regra definida sobre quando e com qual alimento começar a introdução alimentar, porque cada bebê amadurece em um momento. Alguns estão prontos com cinco meses e meio, outros com seis meses, outros com sete meses. O bebê vai mostrar sinais de interesse pelo alimento, demonstrando que está disposto a começar. Mesmo assim, o oferecimento deve ser iniciado a partir dos seis meses completos e pode ser que, apesar do interesse, ele não esteja tão maduro quanto aparente e rejeite os alimentos. Por isso, pais, não se frustrem. A alimentação estabelecida é um processo lento e pode ser feito com calma. “Existem sinais de amadurecimento fisiológico e de desenvolvimento que esse bebê já está pronto para alimentação. E isso varia de bebê para bebê. Assim como cada manga de uma mangueira amadurece em um ponto, não são todas as mangas que amadurecem no mesmo dia, o mesmo acontece com as crianças. Tem bebês que estão prontos com cinco meses e meio e tem bebês que estão prontos um pouco depois”, completa Rachel.

Não há regras, mas recomendações baseadas em evidências científicas, que podem ser levadas em consideração para saber como iniciar a alimentação, por que lutar pelo aleitamento materno prolongado, priorizando a saúde do bebê. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde recomendam que o aleitamento materno seja exclusivo até o sexto mês de vida e continuado até os dois anos de idade, o que significa dizer que o bebê pode ser “alimentado” pela mãe somente de leite materno, sem água, chás ou sucos, por seis meses. Entre os seis meses e os dois anos de idade acontece, então, a alimentação complementar, junto com o aleitamento. Para bebês que foram desmamados precocemente, a recomendação é a mesma, e a alimentação deve ser iniciada aos seis meses. Segundo Rachel, “Estudos demonstraram que o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida garante uma proteção imunológica maior do que se ele for amamentado exclusivamente até o quarto mês de vida. A recomendação até os anos 1980 era o aleitamento materno exclusivo até os quatro meses e com estudos mais recentes das últimas décadas essa recomendação foi modificada por um comitê internacional da OMS e passou a ser até os seis meses de vida. As crianças crescem da mesma maneira com o leite materno exclusivo tanto com quatro quanto com seis meses. O que se observou é que o aleitamento materno exclusivo até os seis meses, sem água, chás ou qualquer outra bebida e alimento, resulta em bebês que têm um sistema imunológico mais forte. Eles têm menos risco de adoecer, especialmente de gastroenterite, que são infecções do sistema digestivo, e de infecções de vias respiratórias, resfriados, gripes e pneumonia. Por isso, por uma questão de saúde, a alimentação deve ser iniciada após o sexto mês de vida do bebê.”

Dicas para os pais e cuidadores lidarem com expectativas

1. É normal as crianças terem muito apetite ou não terem nenhum. As crianças comem mais quando estão em pico de crescimento e comem menos quando estão fora do pico.
2. Você come o tempo todo e muito? Por que a criança deveria comer mais ou menos? E relação a qual padrão? É importante se questionar e abrir a percepção para perceber o que o bebê/criança quer.
3. Em casos de crônicos de falta de apetite, é importante olhar com amor e cuidado cada caso, já que não há fórmulas mágicas para fazer uma criança comer. É preciso investigar os motivos disso e trabalhar as raízes da questão.
4. Os pais precisam rever a obsessão em relação ao peso dos filhos. Quem come uma alimentação saudável, em um ambiente relaxado, come o que precisa comer. Nunca é bom forçar a comer, nem barganhar, nem distrair uma criança para que ela coma.
5. Seu filho vai fazer greve de fome por causa de vários fatores: erupção dos dentes, alguma infecção, picos de desenvolvimento. O apetite dele vai mudar ao longo do processo e ele vai mudar o gosto pelos alimentos, às vezes alguns serão mais saborosos, às vezes outros. A proposta é persistir com compreensão, paciência e amor.

A prática que levou ao projeto

Fabiolla Duarte (SP), 40, mãe do Hari, de cinco anos, se transformou tanto com a introdução alimentar do pequeno que, após seis meses da introdução, criou o projeto Colher de Pau. Educadora antroposófica pela Emerson College, da Inglaterra, ministra um curso de introdução alimentar e comportamento alimentar infantil. “Minha abordagem tem como ponto de partida a educação. Então, minha pesquisa tem sido a respeito do desenvolvimento motor e cognitivo em relação ao desenvolvimento digestivo. É assim que a prontidão para o comer acontece. Muito de meu embasamento vem da observação dos bebês que vou conhecendo através dos cursos, e dos relatos das mães pós-cursos. Quem fez o curso há cinco anos, faria um novo curso se fizesse hoje. A base é a mesma sempre, mas muitos novos insights tenho tido nesses anos de prática. Os cursos têm dois módulos hoje em dia. O primeiro é voltado para a introdução alimentar e o segundo para comportamento alimentar infantil de crianças a partir de um ano. Ambos duram um dia inteiro, das 10h às 17h. Trago bastante conteúdo teórico, temos algumas vivências e trocamos muitos relatos. São cursos muito gostosos de fazer. Sentamos em roda e passamos o dia falando sobre maternagem, paternagem, nossas aflições como pais e mães, nossas certezas, nos acolhemos, aprendemos um com os outros e eu facilito muitas reflexões sobre o processo de cada família. Cada curso é um presente para mim. Eu também aprendo muito”.

Respeitar o desenvolvimento motor e cognitivo do bebê, as escolhas do bebê, comer saudavelmente em família, repensar os hábitos alimentares, caso seja necessário, abolir a papinha e oferecer alimentos amassados com garfos ou em pedaços são as premissas do Colher de Pau. “Tenho percebido nesses cinco anos de curso e mais de 1.500 pessoas que passaram por ele, que um bebê está pronto para comer quando dá conta sozinho de ir até o alimento. Sem ninguém auxiliar. Sem ninguém segurá-lo. Ele vai e pega o alimento e come. Ponto. Isso fica claro num dia de curso, porque eu aprofundo essa explicação e fazemos uma vivência, entre os adultos, que auxilia muito na compreensão disso, mas deixo aqui a imagem de que filhotes mamíferos comem sozinhos e o fazem apenas quando dão conta de irem até seu alimento. Apenas os pássaros recebem alimentos na boca e de modo passivo. A natureza é perfeita. Não daria autonomia motora para um filhote mamífero comer se ele não estiver com possibilidade digestiva para lidar com alimento. E comer é comer mesmo, não é lidar com papinhas.”

Comidinhas da Diana

Mais de 74 mil seguidores acompanham a alimentação da pequena Diana no Instagram por meio do @comidinhasdadiana. Fernanda Fontoura (PR), 35, mãe da Diana, dois anos, criou o perfil no início da introdução alimentar de sua filha com a ideia de registrar as descobertas, o amor e a filosofia de alimentação na qual acredita. “Eu não queria ser aquela mãe que aprende com o pediatra, na consulta dos seis meses, o modo de fazer a introdução alimentar. Eu queria que ele me ajudasse e me esclarecesse, mas já comparecendo com a minha bagagem estudada. E assim foi: optei por seguir as atuais recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria de forma conjunta com as orientações do pediatra da Diana, que tem uma visão bastante simplificada da alimentação, sem muitas restrições, o que me agrada. Acredito que a introdução alimentar não seja um assunto apenas de comida, mas que envolve também toda uma preparação psicológica da mãe e do pai, um entendimento e compreensão de que o bebê, até aquele dia, alimentou-se apenas de leite materno ou fórmula – somente líquido e com sabor único. De repente, ele receberá outros sabores, texturas e cheiros, o que, na maioria das vezes, causará estranhamento e recusa. Uma mãe com essa percepção terá mais paciência para conduzir o processo da introdução alimentar, sem pressa e nem expectativas. E assim construí e construo, dia após dia, a alimentação da minha filha, buscando oferecer a ela uma alimentação simples, saudável e adequada, com a confiança de que a informação, a persistência e a compreensão das fases alimentares da criança são fundamentais para o sucesso dessa linda empreitada.”

O projeto cresceu e se tornou o livro Uma História de Amor em Forma de Pratinhos – Receitas – Comidinhas da Diana, produção independente com 25 receitas, recomendação de idade e informações nutricionais feitas pela nutricionista Giselle Duarte, indicado para bebês partir de seis meses e sem limite de idade. Para Fernanda, os pais precisam saber que é preciso esperar o tempo dos filhos que não é o mesmo dos pais, o que gera frustração e atrapalha o processo. É preciso ter em mente que é literalmente aprender a começar a comer.

O tal do BLW

O BLW é uma sigla em inglês para Baby Lead-Weaning, criado pela britânica Gill Rapley, autora do livro Baby-led Weaning: Helping Your Baby To Love Good Food ("Baby-led Weaning: ajudando seu bebê a amar boa comida", em tradução livre). Para Rachel, é a valorização da iniciativa do bebê de se alimentarem sozinhos. "É um conjunto de técnicas que são batizadas com essa sigla e buscam justamente valorizar o instinto que o bebê tem de levar as coisas à boca e especialmente os alimentos. É muito importante porque favorece a autonomia e a formação de hábitos alimentares e favorece o desenvolvimento da capacidade dessa criança ver, decidir, escolher e levar o alimento à boca.” Fabiolla, do Colher de Pau, vê muitas vantagens, principalmente pela autonomia que a técnica proporciona aos bebês. “Como eu disse, quem está pronto para comer, está pronto para mastigar. Papinhas são um desserviço para a formação de paladar da criança. E comer pedaços também é um modo de evitar engasgos, porque quando um bebê está com um alimento nas mãos, ele já está se avisando a respeito do que se trata aquilo. Seu corpo já sabe que um alimento em breve vai chegar. Já sabe o tamanho, a densidade, a textura. Quando o bebê finalmente leva à boca, ele leva para a parte frontal da língua, o que significa que ele tem mais domínio. Pode cuspir a qualquer instante, controla com a língua a movimentação do pedaço na boa. Com a papinha, a experiência é de passividade. Não tem desenvolvimento cognitivo, não tem experiência lúdica, não tem criação de repertório. É engolir e encher a barriga. E a tal colher que vai à direção da boca do bebê, vai até o meio da língua, um lugar de onde a papinha é lançada até a glote e esse lançamento pode proporcionar engasgos.”

Loading...

Quem imagina que o BLW significa deixar o bebê comer sozinho livremente, engana-se. Existe um conjunto de regras sobre como os alimentos devem ser cortados e oferecidos e sobre o acompanhamento que o cuidador precisa proporcionar. “Os alimentos devem ser cortados de uma maneira que a criança possa segurar. Bebês com seis meses não conseguem fazer o movimento de pinça para pegar os alimentos pequenos com os dedos. Então, grãos de arroz, feijão, ervilha ou carne desfiada, a criança ainda não consegue levar à boca com essa coordenação motora. Por isso, os alimentos devem ser oferecidos em palitinhos ou em bolinhos, para a criança poder pegar com a mãozinha inteira”, explica Rachel. “O bebê, até os dois anos, precisa de uma supervisão e de auxílio, pois nem sempre vai se alimentar adequadamente em termos de nutrientes. Muitas vezes a criança cansa do hábito de se alimentar sozinha e a família ajuda, seja com as próprias mãos, seja com talheres. Há alguns bebês que desde cedo realmente comem e se interessam em pegar os alimentos sozinhos, bebês esses que têm uma personalidade muito definida em relação à alimentação”, completa.

A criança vai aprender mais sobre a mastigação, sobre a quantidade de alimentos que ela pode levar à boca, sobre mastigação e sobre deglutição. E muita responsabilidade aos cuidadores: é preciso executar o BLW sempre sob supervisão da família, “o cuidador deve estar sempre presente, olhando no olho da criança”, afirma Rachel. De acordo com a nutricionista, até os dois anos de idade o bebê precisa de uma supervisão constante, porque realmente às vezes pode levar um pedaço maior à boca e não terá força suficiente para tirá-lo.

Doces ou salgados?

A recomendação primordial do Ministério da Saúde é que os primeiros alimentos a serem oferecidos ao bebê sejam frutas, de paladar mais doce. De acordo com Rachel, “Se a gente pensar que a fruta é um alimento em abundância no Brasil, de fácil digestão, seguro, natural, que não tem aditivos químicos, é um ótimo alimento para preparar o sistema digestivo do bebê para o início da complementação alimentar, pensando que esse bebê até esse momento consumiu apenas leite. Em outros países, em outras culturas, por exemplo, na América do Norte, é muito comum a introdução alimentar não ser iniciada pelas frutas, mas pelos vegetais, legumes cozidos no vapor, na água. Podem ser esses alimentos a serem oferecidos, que não têm paladar tão doce como as frutas. Em alguns países da Europa é muito comum a introdução alimentar começar com os cereais, com mingaus de cereais como aveia, farelo ou farinha de arroz, um mingau espessado, o leite materno ou a fórmula infantil espessados com cereal. Se você parar para pensar na cultura local de algumas regiões, por exemplo, a Ásia, talvez o arroz seja um dos primeiros alimentos a serem consumidos pelo bebê pela abundância desse alimento na dieta asiática. Se a gente pensar num comunidade de pescadores que vivem comendo peixe no almoço e no jantar, talvez o peixe seja um dos primeiros alimentos oferecidos aos bebês dessas comunidades. Então o que a gente percebe é que a introdução alimentar reflete muito a cultura local. E isso tem muito a ver também do ponto de vista da natureza e da fisiologia do aleitamento materno, porque a gente pode lembrar que o leite materno já oferece uma grande variedade de sabores e das proteínas que a mãe normalmente consome. Então se a mãe consome muito de um determinado legume ou de determinada fruta ou consome muitos doces, o leite materno dela chega a ter esses pequenos aromas desses alimentos, mostrando que bebê, em alguma medida, o bebê de peito já está em contato com aqueles alimentos que refletem a cultura daquela região.”

Se os cuidadores e os pais não sabem decidir sobre qual alimento dar primeiro para o bebê, a lógica é simples: retornem para o que é mais abundante e frequente na alimentação materna. Se o bebê é amamentado, provavelmente está acostumado com os sabores que são transmitidos por meio do leite. Se ele é alimentado com fórmula infantil, vale a pena ver o que está em abundância na mesa da família: sirva, com os preparos adequados, o que os pais comem. “Lembrando que é ideal que esses primeiros alimentos que o bebê vá consumir sejam sempre alimentos naturais e vindos da natureza, com texturas adequadas, macios e suaves. Então, realmente, legumes, vegetais, frutas e cereais são os primeiros alimentos mais indicados para uma digestão mais fácil, que o bebê precisará ter no começo da alimentação. Costuma-se dizer que chega certa idade que o bebê já passa a comer a comida da família, mas muitas vezes o que eu recomendo é que a família passe a comer a comida do bebê, especialmente se é uma família que não se alimenta adequadamente, que come muito fast food, que não cozinha, que compras sanduíches e alimentos prontos, então, de forma nenhuma o bebê deve passar a comer a comida da família. Pelo contrário, a família deve voltar às raízes e comer a comida do bebê”, finaliza.

IA idealizada versus IA realizada

“Estamos com 16 meses, desde os seis fazendo BLW. Thomas nunca comeu nada que não fosse com as próprias mãos, ou ele mesmo utilizando os talheres. Quando comecei a pensar na IA, fiquei desesperada, porque odeio papinhas, e já me imaginei tendo que prová-las. Foi aí que descobri o BLW e comecei a estudar, participei de dois congressos e estou em um curso avançado, o próximo passo é começar a realizar encontros para mães que estão iniciando. Tive sorte do Thomas comer bem, e sei que essa não é a realidade da maioria das mães que me escrevem. Montei um perfil no Instagram registrando desde a primeira refeição dele. O @bb_blw [com mais de cinco mil seguidores] tem todos os sucessos e também os insucessos registrados. A aprendizagem é diária, tem dias que ele nem toca na comida. Mas no BLW é isso que é respeitado: tem dias que come e pede para repetir e também os que o prato sai voando pela cozinha, ou vai parar na cabeça. O mantra é sempre muita paciência, a sujeira é passageira.” – Daniela Zanoni (SP), 39, mãe do Thomas, de um ano e cinco meses.

“Nossa experiência com a introdução alimentar começou assim que o Pedro completou quatro meses. Até então eu conhecia apenas o método tradicional, papinha, e não tinha a menor ideia de como fazer uma papinha nutritiva, fui então estudar para me preparar melhor até iniciarmos a introdução alimentar aos seis meses. Pesquisando, me deparei com o BLW. Estudei muito o método durante os dois meses, mas não tive orientação da pediatra do meu filho, resolvi fazer um Curso Avançado em BLW para obter mais segurança, foi o melhor que fiz, pois as dúvidas são muitas e a confusão quanto ao método ainda existe. Por falta de informação, muitas mães, eu me incluía nesse meio, acham que o BLW é apenas ofertar alimentos em pedaços para o bebê - e não é bem assim. Voltando ao nosso início, eu estava muito animada e jurava que seria bem fácil, mas logo vieram os episódios de Gag Reflex e o medo tomou conta de mim, pensei em desistir inúmeras vezes no primeiro mês, mas ele não aceitava ser passivo na alimentação, então enfrentei meu medo e com o auxilio do curso conseguimos até hoje praticar o BLW cem por cento. Lógico que há dias de desespero por causa da sujeira, mas no início eu tinha mais paciência, porque eu sabia que fazia parte do processo de aprendizado. Agora, ele joga a comida no chão de propósito e isso me tira do sério. Aliás, muitas mães desistem do método nessa fase, mas por aqui respiro fundo e continuo firme. Pedro nunca engasgou com nenhum alimento sólido, mas sempre treinei com ele as manobras de desengasgo, acho que independentemente do método todos deveriam saber aplicar, só para dá uma maior segurança. Passamos por fases da seletividade, em que uma única fruta é aceita por semanas e ainda estamos em fase de adaptação dos pratos e talheres. Aliás, já perdi a conta de quantas vezes o prato foi para o chão junto com a comida, mas faz parte, junto a comida no prato e ofereço novamente. É isso, estou feliz com o método que escolhi e sei que vou colher bons frutos no futuro.” – Janaína Jucá (PE), 27, mãe do Pedro, de um ano e três meses.

“Eu estava muito ansiosa pra iniciar e muito relutante aos palpites de mãe, prima, tia que ‘deram algo e o bebê não morreu’. Não tive muito apoio pra amamentar exclusivamente, apenas meu marido sempre me apoia e escuta sobre minhas pesquisas. O pediatra da Maria é um fofo, mas pediu para iniciar com suquinho de laranja lima, rs. Eu questionei e ele disse que não tinha problema, que o que ela ingeriria não daria pico glicêmico. Não quis mudar de pediatra, gosto dele, eu escuto e filtro tudo o que ele e todos falam, mas não achei necessária a mudança. Procurei a nutricionista que me acompanhou na gestação e com ela tiramos todas as dúvidas. Ela sugeriu apresentar as frutas amassadas, mas com pedaços. Perguntei se ela conhecia o BLW e ela disse que não, mas que iria pesquisar. Iniciei apresentando a banana inteira, para ela segurar com a minha ajuda. Ela gostou pouco, ficou mais interessada da textura, na meleca do que no sabor. Fui oferecendo outras frutas como mamão, tampinha da laranja, e ela começou a curtir, até conhecer o salgado. Foi amor na primeira degustação. Fiz uma sopinha com pedaços, pois não me sentia segura em dar tudo inteiro. Ela passou a não querer mais as frutas, só comia se fosse salgado. Eu continuei insistindo nas frutas, hoje em dia ela come bem. Mas a preferência ainda são os salgados. Não consegui seguir à risca o método BLW, pois ela almoça com a minha sogra. A primeira vez que eu mandei o almoço dela (sopinha de legumes em pedaços e carninha moída), minha sogra passou na peneira. Eu sinceramente não fiquei chateada. Ela aprendeu assim, se sente segura assim, mas conversei com ela, disse que poderia dar em pedaços, que em casa a Maria come assim e adora. Enfim. Minha sogra passou a dar a sopinha do jeito que eu mandava, em pedaços. As frutas ela consegue dar inteira, já confia mais. Semana passada eu mandei a salada separada da comida (que já não é mais sopinha, Maria tem nove meses e prefere comida mesmo) e minha sogra achou um barato ela pegar a salada e comer sozinha. Creio que em pouco tempo ela vai se acostumar com a ideia, pois é uma pessoa muito aberta e eu estou sempre a convidando para participar dos assuntos que envolvem a Maria. Sempre pergunto a opinião dela, mesmo sabendo que às vezes não será a minha. Escuto com carinho e respeito e em seguida falo sobre a minha opinião. Assim seguimos, hoje Maria almoça, janta e come frutas de duas a três vezes ao dia. Seguimos com a amamentação (delícia) em livre demanda.” – Raquel Holanda (SP), 33, mãe de Maria Eduarda, de nove meses.

A responsabilidade da alimentação do bebê/criança é dos pais. Pais que tiveram uma infância regada a produtos industrializados, televisão e muito açúcar, vocês podem rever alguns conceitos para saber como lidar com a alimentação do seu filho, porque, acreditem, para que ele tenha uma alimentação saudável, produtos naturais terão que ser prioridade. Repensar a ingestão de açúcares é necessário para a alimentação em todas as idades – por que não começar desde cedo? Por isso, é preciso que os pais deem conta de uma argumentação entre eles para começar a IA bem informados sobre o assunto. Principalmente porque as antigas ideias sobre alimentação e praticidade alimentar, reforçadas pela publicidade de alimentos intantis, zero açúcar, fit, entre outros, vão fazer parte do repertório de quem convive com o seu filho e participa minimamente da alimentação dele. Biscoitos, danones, leite artificial, bolinhos infantis, doces: todos serão oferecidos com a prerrogativa de que criança precisa. E todos podem ser questionados. Familiares e amigos possivelmente vão oferecer alimentos sem consultar os pais antes (atenção para o risco de alergias). A introdução alimentar se trata de um processo de oferecimento, de amor, de cuidado e de paciência. E de saúde. Por meio dela, um bebê vai começar a formar seus próprios hábitos alimentares. É possível também que os pais escutem: “eu dei para você e você sobreviveu”. Ótimo. Mas você, mãe, pai, cuidador, quer criar um sobrevivente ou um vivente?

Leia mais:

Como retomar a vida sexual após o primeiro filho
30 crianças que conseguem dormir em qualquer lugar. Literalmente
Meu filho sofre bullying, e agora!?
Amor acima de tudo: pais fazem tatuagens para dar apoio aos filhos

Redação taofeminino
you might also like