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8 razões para ler a tetralogia napolitana, de Elena Ferrante

by Redação taofeminino ,
8 razões para ler a tetralogia napolitana, de Elena Ferrante© iStock

Chega ao Brasil o último lançamento da série, 'História da menina perdida'. Os quatro livros já venderam mais de 2 milhões de cópias no mundo. Por Mirela Mazzola

Um dos fenômenos editoriais da década acaba de ganhar seu desfecho no Brasil. Lançada na Itália a partir de 2011, a chamada tetralogia napolitana inclui quatro romances – que somam 1 700 páginas – escritos por Elena Ferrante, pseudônimo de uma identidade não revelada (e que gera o maior burburinho no mundo editorial). A amiga genial, História do novo sobrenome, História de quem foge e de quem fica e História da menina perdida contam a história das amigas Elena Greco e Rafaella Cerullo, ou Lenu e Lila, desde a infância, em um bairro pobre de Nápoles nos anos 1950. Ao longo da narrativa (em primeira pessoa, por Lenu), a realidade impõe provas de cumplicidade a amizade das duas, que também competem entre si. Enquanto "a amiga genial" desde o início parece ser Lila, é Lenu quem tem a chance de continuar os estudos e fugir do destino comum às mulheres do bairro: o de se casar e ter filhos muito cedo.

Os livros de Elena Ferrante

A amiga genial
O primeiro volume da tetralogia napolitana começa com um telefonema do filho de Lila, Rino, a amiga Lenu, quando elas já têm 66 anos. Ele conta que Lila sumiu (o que, como Lenu sabe, seria a realização de um desejo antigo, de simplesmente desaparecer). Como uma forma de impedir isso, Lenu decide narrar a trajetória das duas, desde a infância até a adolescência.

História do novo sobrenome
Depois de ter que interromper os estudos por questões familiares, Lila se casa precocemente com Stefano, rico comerciante local. Enquanto isso, Lenu se prepara para a faculdade, levando consigo as marcas dessa complexa relação de amizade. A transição da adolescência à vida adulta traz episódios mais intensos ligados à sexualidade e à questão feminina.

História de quem foge e de quem fica
Depois de abandonar o casamento para viver um grande amor, e de ter vivido a decepção do término desse relacionamento, Lila se muda com o filho para o subúrbio de Nápoles e arranja um emprego extenuante em uma fábrica de embutidos. Lenu, já formada e autora de um romance autobiográfico de sucesso, conhece e fica noiva de um professor universitário de família rica. Apesar da distância física que as separa, Lila e Lenu se mantêm ligadas emocionalmente.

A seguir, alguns motivos que devem te convencer de vez a mergulhar nessa leitura.

1. Todos os volumes já foram lançados no Brasil

Se você, como o resto da humanidade, fica maluca ao terminar um livro – ou temporada – de uma série e ter que esperar o lançamento do próximo, uma ótima notícia. No fim de abril, a editora Biblioteca Azul, que publica a tetralogia no Brasil, lançou o último volume, História da Menina Perdida. O livro também já está disponível para o Kindle, na Amazon (R$ 31,19), e dá sequência à história complexa de amizade entre as personagens, que agora caminham para a velhice.

2. Segundo a história, amigas podem ser rivais. E tudo bem.

Uma das características mais fascinantes na narrativa é como Ferrante conduz a ambiguidade na relação das protagonistas, Lenu e Lila. Não ficam dúvidas de que elas são melhores amigas mas, por outro lado, a competição e a omissão (de sucessos e fracassos) permeiam o tempo todo a escrita de Lenu, narradora da história. Também existe uma dependência eterna entre as amigas, ainda que a distância, os estudos e o rumo da vida de cada uma as tenha separado. Isso leva a um questionamento interessante: será que, como seres humanos, as mulheres conseguem passar por cima de qualquer sentimento de disputa em nome da sororidade? Este texto, da escritora Taís Bravo traz a reflexão:

"A possibilidade de duas mulheres serem amigas e rivais é, para mim, infinitamente mais importante do que a promessa de união incondicional entre as mulheres. Porque é mais importante que as mulheres possam apenas ser gente, ou seja, equivocadas, vacilantes e contraditórias. Gente e não bibelôs domesticados."

3. Trata-se de um best-seller de primeira

A amiga genial, primeiro livro da série, foi lançado em 2011 e logo se tornou um tremendo sucesso: desde então foram vendidos mais de 2 milhões de cópias em todo o mundo. E, para quem acha que um sucesso de público não pode ser um sucesso de crítica, saiba que o último livro, História da menina perdida, foi finalista do Man Booker Prize, renomado prêmio do gênero. Já foram publicadas várias críticas positivas, entre elas um número especial no suplemento literário do jornal Corriere della Sera, um dos mais tradicionais da Itália.

4. Mais que um livro feminista, ele reflete a condição feminina

Talvez o livro trate mais de machismo do que de feminismo. Ou ainda sobre como a devoção ou a recusa ao homem (seja ele pai ou marido) moldam o futuro da mulher na Itália pós-guerra. Os personagens masculinos, em geral, exercem uma força inescapável, não importa se como patrões, irmãos, maridos violentos ou mais esclarecidos, ou entre os desconhecidos que assediam as jovens quase que o tempo todo.

A forma intensa e cortante com que Lenu narra os episódios de sua vida, da amiga Lila e do bairro napolitano onde cresceram faz com que seja impossível não encontrar alguma identificação – seja nos episódios que discorrem sobre amor, dinheiro, virgindade, casamento, maternidade e beleza. "São segredos que se sabem só quando se é mulher", como disse uma amiga do bairro a Lenu, em História de quem foge e de quem fica.

Sabe a série Girls, que retrata a mulher contemporânea sem filtros? A Tetralogia Napolitana também é assim, uma verdadeira referência para o sexo feminino.

5. Até a reclusão da autora leva a uma reflexão interessante

Não se sabe a identidade de Elena Ferrante, na verdade um pseudônimo da escritora (ou escritor, embora seja bem difícil acreditar nessa possibilidade). Autora de outros sucessos, como Um estranho amor e A filha perdida, ela se recusa a participar de lançamentos, divulgar fotos e só concede entrevistas por e-mail. Em uma delas ela teria admitido ser mãe e ter nascido em Nápoles (mas sem confirmar que a tetralogia tem traços autobiográficos). O rebuliço em torno da identidade da autora é tanto que o repórter italiano Claudio Gatti esmiuçou as transações bancárias da editora de Elena até descobrir que ela pode ser a tradutora Anita Raja, que presta serviços na mesma editora, a Edizione E/O.

Ainda por-email, Elena deu um motivo sublime para sua recusa aos holofotes:

“Acredito que livros, uma vez escritos, não precisam de seus autores. Se eles têm algo a dizer, mais cedo ou mais tarde encontrarão os leitores."

6. História e política se misturam à narrativa e a enriquecem

O contexto político pós-guerra na Europa, principalmente no sul da Itália, é parte importante da teia que compõe a história. O tempo todo, as trajetórias de Lenu, Lila e de todo o bairro se esbarram em movimentos como o fascismo (representados por comerciantes ligados a Camorra, a máfia napolitana, nas redondezas) e na adesão ao Partido Comunista no movimento operário. A própria miséria vivida nos primeiros anos de vida das garotas ajuda a retratar uma porção da Itália menos desenvolvida e modernizada, que ainda luta para se reeerguer do baque que foi a Segunda Guerra Mundial.

7. Escrutina o poder do meio, sem ser determinista

Desde o início da saga fica claro qual papel cabe às mulheres do bairro: abandonar os estudos cedo, casar-se virgem (se possível com alguém que a tire da pobreza), viver subjugada ao marido – inclusive se submetendo à violência doméstica – e ter filhos, muitos filhos. Às "outras", caberiam o papel de amante ou de solteirona.

Apesar de esses parecerem futuros inescapáveis, Lenu consegue concluir os estudos e se formar professora em Pisa, no norte do país. Ainda assim, a influência do bairro onde nasceu a persegue, seja na insegurança que sofre com frequência ao se vestir e se portar ou na expressão linguística – ainda que tenha passado a vida estudando italiano clássico, é ao dialeto napolitano que ela recorre em momentos de conflito.

8. Vai virar série da HBO

Segundo o jornal The New York Times, a primeira temporada (correspondente ao primeiro livro) terá oito episódios e deve começar a ser filmada em junho, com estreia prevista para o ano que vem. A primeira etapa da produção, entre a HBO e a rede italiana RAI, será dirigida por Saverio Costanzo, toda em italiano. Se tudo der certo, serão produzidos 32 episódios, adaptados dos quatros livros. A escolha dos atores ainda não foi divulgada.

FICHA TÉCNICA

Títulos: A amiga genial, História do novo sobrenome, História de quem foge e de quem fica e História da menina perdida
Autora: Elena Ferrante (tradução: Maurício Santana Dias)
Páginas: 336, 472, 416 e 476
Preços: R$ 44,90 e R$ 49,90 (o último volume)

Inspire-se!

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